quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

MARIA E O ARQUITETO

MARIA E O ARQUITETO



Maria anda muito insatisfeita com as coisas que lhe escapam. Pelas mãos e dedos. Olhos e ouvidos. Pela boca que emana silêncios, sorrisos, frases certas e incertas. Repreende-se. Nem sempre é assim. Às vezes vai certeira pro chute. Com ou sem delicadeza, enfia o pé e manda pro gol. Faz cesta, mesmo sendo tão pequenina. Sobe na rede, corta a bola e deixa o adversário estacado. Mas logo depois lhe ocorre a pergunta: Por quê? Eu precisava tanto dar aquela resposta, falar daquele jeito? Mas o que lhe parece mais insuportável são as respostas, certas, erradas, doces ou não, que só lhe vêm na boca ao fim e ao cabo das situações. Na hora, apenas calou, sorriu, falou qualquer bobagem. E o incrível é que são ótimas respostas! Seriam! Se lhe ocorressem a tempo! Mas levam horas, meses, até anos. Maria anda farta de arrastar o peso de não ter, na hora certa, respostas porretas no bolso da casaca. Exausta mesmo. Ainda hoje se lembra de quando ela e os amigos conversavam em torno da cúpula de uma estrutura geodésica sobre a mesa da sala. Versátil, leve e resistente, ela recebia a claridade do sol por entre as frestas . O formato esférico somado aos triângulos que compõe a estrutura, possibilitam que qualquer força aplicada no domo possa se distribuir igualmente até a base. Nesse dia Pedro perguntou a ela, entre todos aqueles espaços, qual ela preferia. Ela disse: tudo, né? Senão for a estrutura toda não tem graça! Ele sorriu meio bobo e disse que tudo não dava. Depois veio o silêncio. O vácuo. Agora, anos depois a cena ainda lhe parece viva. Pensa que para Fuller, o inventor, a estrutura geodésica foi pensada como abrigo capaz de fazer frente às necessidades de quem a habitasse. Para alcançar esta meta, Fuller desenvolveu como suporte teórico da sua experiência empírica, a "geometria energético-sinergética": uma base teórica que envolve conceitos diversos onde filosofia e geometria se entrelaçam. E onde "sinergia" ou o comportamento da totalidade desse sistema estrutural, não é previsível a partir do comportamento isolado de suas partes, ou seja: “o todo é maior que a soma das suas partes". Talvez por isso, anos depois da pergunta de Pedro, ela agora diria apontando alguns triângulos daquela estrutura: Essa parte, se por aqui entrar o sol da tarde e a noite, da cama, a gente puder ver a lua. Sabe que ele teria ficado sem chão. Ela idem. Ou não. Mas ela não disse naquele dia... E tudo ficou diferente depois. O todo é maior que a soma das partes. E absolutamente, uma outra coisa. De qualquer forma, pensa agora nas suas necessidades de habitar, no planeta azul que ela e Pedro ainda habitam e que ainda entrelaça filosofia e geometria... O todo pode ser maior que a soma das partes.



2 comentários:

  1. Cara arquiteta este texto é ... muito muito muito booooooooommmmmmmmmmm!
    Aliás você não escreve algo que não seja BOM!!!
    Vim aqui no micro mostrar seu blog pra minha mãe que queria reler Maria e o arquiteto.
    Bj da Fatima/ Laguna/SC

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  2. Fátima, querida! saudade :) lembro de você ao olhar para o quadrinho do boi... lembra? adorei! muito obrigada :)

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