terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

PROTOCOLO SEM INDIGNAÇÃO PARA QUARTA-FEIRA DE CINZAS



protocolo sem indignação para quarta-feira de cinzas

foto: Clotilde Zingali - bar do Motta 2015


por excesso ou não de opacidade, quando se ultrapassa a ideia dos olhos e do olhar, o que sobra é oscilação e sobrevivência. sobra permear pelo ocaso. pelo acaso de estar no momento. sol que cai. eu dentro. por isso talvez garimpo e cavo a terra em busca do que freme e não brilha. de impulso e de ar. de sal e doce. porque preciso ter fome. isso nada tem a ver com a altura do morro ou as curvas do trajeto. nada que se possa calcular. se pondero e peso algo com minhas próprias mãos é porque talvez eu seja desenhada em ousadia e nitidez. todo contorno derivado do fluxo discreto da letra, pela forma integral da palavra e pelo que lhe dá impulso. no que sobra, sou caminho, pedregulho que barulha sob meus sapatos e o barulhinho das ondas que chegam no quintal de casa. sol que cai. eu dentro. tudo é viagem e pernoites. dia seguinte, café.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

5 MOVIMENTOS EM SI MAIOR

foto Clotilde Zingali 2015 em praia do Francês/SC

5 MOVIMENTOS EM SI MAIOR 
(diz a lenda  que si maior pode ser uma escala estranha, incômoda e cheia de sustenidos... )

1. o que nubla em mim, transparece em meu cristalino. isso é algo que achei bonito. é também a descrição da catarata. definir é para quando se pode e do jeito que é possível. o sangue é rio que irriga a carne. são afirmações que capturo enquanto permaneço não essencial. tão somente unidade de informação e multiplicação. objeto da seleção natural. composição molecular e desejo. misto de carbono e água. resultado da oscilação de taxas hormonais. vertigem nos braços de um homem. eu poção de acasos, paisagem polar; fenômeno imprevisto e desintegração. Sim, ainda tenho flores no olhar. jardim e orvalho. no mais, sorrio o doce-amargo de um hiato.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

AH!





tudo que pode haver e que vai caindo 
debaixo do silêncio ou com música para dançar
a gente vai catando;
vai catando e separando,
por exemplo: separa a vontade da gente 
da vontade das coisas e do que havia para ser dito.
as coisas vão caindo 
e a gente deixa ou não que vá saindo e...
mesmo assim tremendo 
mesmo assim se espantando 
a gente vai separando;
separa o que diz 
do que escreve 
e o que se diz e escreve, a gente separa das pausas (sempre elas);
nas pausas a gente vê o que resta, 
vê o que sobra e pode ex (im) plodir …
entre que se diz e o que não
entre o que cai e a gente cata
entre o que se fala e o que se cala
sobra corpo, palavra e silêncio, 
entre o que se diz e que silencia, 
sobra sexo e poesia. 

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

ROSA DE JERICÓ

Desenho Tulipa Ruiz

ROSA DE JERICÓ

pensamentos tateiam cutucam e insistem; gravitam entre dois tempos e uma só promessa. a viagem é escrita e devaneio. é provar ser deliciosamente experimental e incompleto, enquanto resta no chão uma ideia antiga de maturidade. misturado imiscuido disfarçado declarado ou não, gabaritado surtado escondido escancarado. o que sobra é saara. pedras e rochas esculpidas pelo vento mais o reflexo do sol que cintila criando miragens: acácias cheias de espinhos são camelos vacilantes vindo em sua direção. no deserto, a única doença endêmica é a loucura. o que sobra é composição e poesia. pura reinvenção. 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

VENDAVAL SEM VIOLÃO





Clotilde Zingali - hidrográfica sobre papel 2014

não é porque recolhi uma a uma minhas coisas sobre a cadeira sobre a cama banheiro e até do armário da lavandaria encaixotei colares reclamações e até a torneira antiga da cozinha que um dia começou a pingar por anos e eu fechei não é porque dobrei lençóis toalhas recolhi pinça alicate calcinha e até uma cueca sua para ter de lembrança ou coar café para algum desafeto em um delírio que nunca terei ou porque guardei tudo que nunca houve de fato e agora tudo que é meu ou que um dia foi meu está lá dentro abafado emaranhado dentro de malas velhas no alto do armário que eu nem alcanço, não é.
é talvez essa sensação de estar quase morta quase viva sem poder respirar direito e ainda assim atravessar o vão livre entre a porta de entrada e a garagem quase nua quase vazia quase invisível para depois engolindo a laranja do suco as sementes as fibras e até a vitamina c que eu preciso para espantar os radicais livres que insistem; pensar em nossa história que já não é. 

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