segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

OUTONIAS DE AMOR EM PROSA






sim, estou um pouco desgarrada; um pouco sonâmbula. é que tudo anda meio esquisito e talvez sem explicação. mas sim. acho que se fosse comida, coisa dentro da gaveta e até um poema, claro que seria sorriso dentro dos olhos, boca na pele e som da voz tilintando dentro. acho que sim, se fosse desenho, haveria um canto em branco para preencher. fosse sonho, ainda que acordado, haveria um rubro no ar a avermelhar bochechas. talvez fosse um caminho, e a pele e um roçar de braços no caminho. mas se fosse sonho mesmo,  dentro do sono,  depois dele talvez amanhã; talvez café. e se acaso durasse, sonho e vida, vapor, súplica e assovio; apesar da exatidão matemática e das flores rabiscando o chão, sim, ainda estaria aqui: cativa entre hábitos, maravilhas e aberrações.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

ARLINDO ORLANDO - CÊ NÃO IMAGINA A AFLIÇÃO QUE EU SINTO




captação, síntese e invenção são fronteiras com que deparo na orfandade. descolonizada e fraturada no encalhe penso se é o fim do ato. o amor faz volteios na coxia; ricocheteia. ao fim de tudo, de todas as coisas, ao fim e ao cabo, salto de bota e tudo por sobre o abismo e a angústia: desde sempre sei que se não se salta, não se compreende; o tamanho do abismo ou seja o que for, até do meio-fio. pronto: agora tudo é bluestalvez por isso saco o tambor do profundo das águas e de um supetão tasco-lhe uma sequência de saraivadas com o oco da mão e palma. No vão e na cunha da palma, tem fresta e silêncio, um mar de (des)exatidão. nos dedos e no canto da palma, perspectiva e talvez um olhar que ressoa e faz horizonte e brilho....  ainda assim não posso evitar olhar no espelho e ver seus olhos. mas pedra a gente joga e mostra a mão. entendo que mãos, tambor, boca e voz são instrumentos de sentido e razão. de percussão. e sei da pedra. e que abaixo dela tem ebulição. não quero dormir. estar com o casco cravado na areia dá convergência. eu ganho perspectiva para descortinar o que se mostra e o que se esconde ali. entre o casco e a areia. bem ali onde seu olho me olha; bem ali debaixo  da nau e do encalhe. bem debaixo da tua graça; da tua boniteza; Arlindo Orlando.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

AMOR ENLUARADO


Foto: Clô Zingali

Juçara está grávida. em noite de lua cheia, espera com ela. prateia. lua de neve e areia. 
talvez por isso enxerga Tiago debaixo da penumbra. espera o novo. pensa em eclipse. em quando Sol, Terra e Lua se alinham com um desejo que é do universo. se deixa absorver pela ideia.
a vontade deglaceia sobre a beira da água. faz possibilidade e força.
Juçara armazena o desejo e respira então tudo que se adia. depois alua e respira até o abandono da noite. encapsula ainda mais uma vez o mistério. depois orfana um muxoxo: é bicho e é gente. sabe que
o amor faz colapso nas gentes; deita luz em bússolas cravadas na areia.




link musica GRÁVIDA Marina Lima e Arnaldo Antunes


https://www.letras.mus.br/marina-lima/88213/



domingo, 5 de fevereiro de 2017

A ARTE DE PERDER

A ARTE DE PERDER, POR Elizabeth Bishop
A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por mais que pareça muito sério.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

DICIONÁRIO DAS TRISTEZAS OBSCURAS


Tem um trabalho chamado O Dicionário das Tristezas Obscuras.Criado pelo artista John Koenig, é uma coleção de palavras inventadas, que servem para oficializar emoções que as pessoas sentem mas não conseguem explicar.  :)  palavras cordão para um tanto de coisa que a gente sente e que não dá pra nomear... fiz um escritinho misturando algumas delas :) espero que gostem!!


RELATOS AGORA NOMEÁVEIS

Acordei tomada de adronitis. o tempo passa e penso quanto tempo leva para se ter a sensação de conhecer alguém? não sei... estou com ambedo, absorta de tal modo com alguns pequenos detalhes da vida e sua intensa fragilidade, que tenho ganas de anchorage, sabe? de segurar esse tempo que corre e me me desequilibra bem no meio da correnteza.  é pura anemoia; a nostalgia de algo que desconheço um dia ter vivido! 

Lembro de amigos reunidos em algum lugar do passado e já é anthrodynia me invadindo e me fazendo ver o quão esquisito se pode ser. é humano e ainda assim vem esse estado de quase exaustão. uma onda de ballagàrraidh traz a ideia da força que há em mim para resistir à domesticação. eu não quero ser domesticada! súbito me invade uma sensação antiga: de ecstatic shock, sabe?

É então que me deixo invadir pelo olhar de relance de Arnica. tão afeita a mim. tão vívida na sua vida cã. sou invadida de ellipsism por desconhecer como as coisas vão terminar. não adianta e não importa, mas olhar para o futuro e ser tomado de uma onda de énouement tem no mínimo, um sabor agridoce. e eu, embora adore sentir na papila sal e doce misturados... tonteio! não saber onde vai dar uma coisa e ainda assim ser incapaz de conter o fluxo das ações é uma coisa agridoce ;) e o eu de hoje e o eu de amanhã não sabem conversar.... e tudo piora quando vem exulansis. falar para quê? 

Ao fim e ao cabo, ao olhar para o lado o que sobra é um estranho sentimento de gnossienne: impossível atingir a couraça do outro! e então a solução é jouska jouska jouska jouska: uma conversa hipotética e convulsiva comigo mesma e que repito sem parar até que ceda essa sensação. no fim talvez tudo seja questão de tentar aprender a lidar com kairosclerosis - quando se percebe conscientemente que está feliz e se depara com questionamentos esquizofrênicos sobre felicidade e vai vendo sua hipotética felicidade consciente se dissolver bem embaixo do seu nariz e consciência!!!! 

Felicidade é inconsciente. e é passageira. e não precisa de culpa! ponto de exclamação! pura sensação de kenopsia; que é o que sinto quando olho para Tucksland; o povoado em que vivo, e que tem agora essa atmosfera algo misteriosa e desamparada de um lugar que foi e já não é. 

Ainda assim é bom estar aqui. me invade às vezes uma onda de lachesis e admito a possibilidade de ser atingida por um desastre – sobreviver a uma queda de avião, ou perder tudo de forma irremediável... mas o que há de lutalica em mim quer crescer, e é absurda a ideia de que se eu escapar de uma categoria entro em outra. isso é real e irremediável. exato como disse meu analista: em alguma estatística você vai cair! então o quê fazer? entre a mimeomia e monachopsis... o que fazer? frustração por me encaixar ou não em um estereótipo e a sensação sutil mas persistente de estar fora de lugar... nodus tollens: o roteiro da minha vida já não faz o menor sentido! 

Não bastasse vem pior: onism. a frustração de estar presa em um corpo que habita apenas um lugar por vez. nada de clones! depois da opia que senti quando olhei nos olhos de Edgar... putz... que fazer com a intensidade ambígua de se olhar alguém nos olhos, se sentir vulnerável e gostar? fui invadida. penso nele e um sentimento de sonder me invade. o que fazer se cada pessoa tem uma vida tão vívida e complexa quanto a sua – populada por ambições, amigos, rotinas, preocupações e loucura? só scabulous te salva: sentir orgulho de uma cicatriz. como um autógrafo dado a você pelo mundo. mas nada disso impede the bends e a sensação frustrante de perceber que não se está aproveitando uma experiência tanto quanto deveria. 

Queria talvez acreditar em waldosia. em pensar que alguém no meio de uma multidão, está procurando uma pessoa específica. e que é exatamente por esse motivo que acontece o encontro; mas nada muda o sentimento de zenosyne: a sensação de que o tempo está passando cada vez mais rápido e yu yi quer te invadir. algo intensamente novo por  favor!!!!  

O fato é que tudo muda o tempo todo mas nada muda occhiolism e o dar-se conta da pequenês de algumas perspectivas e da impossibilidade de chegar a qualquer conclusão significativa sobre o mundo, o passado, as complexidades da cultura ou do amor. 

A solução pode ser iniciar por reverse shibboleth e a prática de atender o telefone com um “alô?” genérico, como se você soubesse quem está ligando e não se importasse. o que pode sobrar dessa experiência? rückkehrunruhe; que é o sentimento de voltar para casa depois de uma viagem imersiva, e perceber que toda a experiência já está desaparecendo rapidamente da sua consciência. 

Mas calma... existe chrysalism e a tranquilidade confortável de se estar dentro de casa durante uma tempestade. Isso é muito bom! e des vu para começar a acabar :) porque sim: isso tudo um dia vai virar lembrança. e virá, certamente, lalalalia. sim... e você vai se dar conta, enquanto fala sozinho, que outra pessoa pode estar vendo ou escutando, e você vai se ver transformando suas sérias palavras em algum cantarolar sem sentido. 

Um dia se importará menos com as coisas. sentirá liberais, e todos os sentimentos conjugados e inomeáveis terão a graça de agora serem nomeáveis e você apenas desfrutará da alegria de tomar um sorvete em frente ao mar num dia qualquer de verão. 

Postagem em destaque

SOBRE QUESTÕES RESPIRATÓRIAS E AMORES INVENTADOS

http://metropolitanafm.uol.com.br/novidades/entretenimento/imagens-incriveis-mostram-a-realidade-das-bailarinas-que-voce-nunca-viu...