quinta-feira, 23 de setembro de 2010

INSTABILIDADE e ELUCUBRAÇÕES PASSAGEIRAS


O leitor que já jogou fliperama poderá me entender. Sabe quando você solta a bolinha e ela sai ricocheteando para tudo que é lado sem marcar nenhum ponto? Assim me sentia na última tarde de outono. Tentando arrancar um maldito pêlo do queixo, lembrei daquela música que Durval Vieira escreveu, Luiz Gonzaga interpretou e Gal Costa também. “Que diferença da mulher o homem tem? Espere aí que eu vou dizer meu bem: é que o homem tem cabelo no peito, tem o queixo cabeludo e a mulher não tem”. Qual o quê! Bendita seja Nossa Senhora da Pinça! Sem contar Nossa Senhora da cera quente, da cera fria e do laser, né? Seja como for, para além das possíveis diferenças e semelhanças entre homens e mulheres, a bolinha continua ricocheteando. Também! O que se pode dizer de alguém que tira pêlos do queixo? Queria ser mulher-girafa. Aquele pescoção para exibir além de poder limpar as orelhas com a própria língua! Mas não tem problema, não. Eu fico bombeando 50 litros de sangue por minuto, e nem sou girafa. Tô batendo um bolão. Mas veja, de novo é setembro. E eu, ao contrário da girafa, nem tenho língua de ½ metro, intestino de 77 metros e fico pensando como definir o tempo que acelera e o que passa devagar. Qual é o jeito de ver o tempo passar? Ir de bicicleta? De táxi? Ficar olhando disfarçado por trás de um muxarabi? Ou dar uma de pulga e ir saltando de 34 em 34 cm? Passando quase despercebida e ao mesmo tempo causando uma coceira danada? Pode ser. Seria uma ideia boa pra muita gente! Também seria bom ter uma estrutura semelhante a das minhocas: cinco pares de corações na parte dianteira do corpo. Daria para distribuir melhor as emoções todas! Não faz mal. Tô me virando com um coraçãozinho só. E rindo dessa nossa cômica sociedade. Você sabe para que serve um deputado estadual? Tiririca também não. Sei que tem estado de espírito que é impossível de definir, caro leitor. É melhor aceitar o mistério. É por isso que quedo admirada diante da definição de Aurélio Buarque de Holanda para Definição. “Uma definição é muitas vezes sorte. É pegar borboleta no ar, é capturar. É ter um lado poético e um lado prosaico, duro. E a satisfação quando se vê aquilo cristalizado”. Então a gente precisa se abrir para as fissuras, leitor. Não é filosofia de boteco, não. O tempo cria tramas onde a gente se enreda e se a gente não cria um fissura no tempo não pode vivenciar os acontecimentos. Isso significa correr o risco de ser encontrado pela memória para ver o que já estava ali e a gente não via. Potencializar a vida, entende? Dar novas cores, construindo e mudando nossa história. Abrindo espaço para o futuro. Mas não pense não que sou doida. É a sociedade pós-moderna que é. Entendendo assim, a gente abre nossa ideia das coisas. Abre o conceito do que é ou não ser doido. E se pergunta se a vida realmente só existe nos pólos...lá onde as coisas são tão engessadinhas que uma martelada pode quebrar. Eu não quero quebrar. Rachar é coisa de parede, que ao sofrer pressões de várias ordens pode trincar. É coisa de jatobá. Quebra e não enverga. Minha estrutura apaixonada me pede recorrentemente para ser bambu. Envergar e ver todas as nuances disso. Viva a instabilidade da mudança de estação. Elocubrações primaveris. Boa semana, leitor. Aproveite a primavera! Carpe Diem!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O AMOR E AS ABELHAS


Bom Dia, Joinville. Bom dia, leitor. Tenho que contar um segredo: sou moça escutadeira e certas vezes, quando pareço estar “ausente”, estou mesmo é ligada em coisas que capto por aí e que, confesso, não posso evitar somar com minha imaginação para depois reproduzir a vida que acontece “escondida” nos cantos da vida. Nossa saborosa vida. Vejam essa conversinha e me digam se meu “pecado” procede.


“As pessoas quando ficam, são ficantes. Quando amam, amantes. Quando namoram, namorados. Quando casados namoram, são namoridos. Os enamorados se enamoram de si e do outro, que é relativo a um estado de enamoramento”.


- Pára de rir, menino.


- Pra quê? Eu gosto de ver você me olhando assim.


- E por isso você ri? Tem graça... Mas eu gosto do seu jeito, sabia? Deixa eu te falar, sabe que eu tenho uma pitangueira em casa? Está comigo há três anos.


- E dá flor?


- Flor dá. Não dá é pitanga. Já viu pitangueira que não dá pitanga?


- Já vi coisa muito pior. Mas posso passar na sua casa.


- Você quer ver a pitangueira?


- É. Eu vejo ela também.


- Para de rir, menino.


- Eu vou de bicicleta. A gente pode dar uma volta depois.


- É. A gente pode, sim. O meio de transporte mais perigoso é a bicicleta, sabia?


- Nada.


- Eu moro em apartamento.


- O meio de transporte mais seguro é o elevador. Relaxa. Nem tudo está perdido. Sua pitangueira é grande?


- Quase bate no teto! Deve ter uns três metros...


- E dá flor mas não dá pitanga.


- Isso.


- Alguém me disse que pincelar as flores faz nascer as frutas.


- Sério?


- Diz que sim. Você tem que passar o pincel nelas quando estiverem abertas. Um pincel bem macio.


- Um pincel?!?


- Isso. Como se fosse pintar uma a uma. Eu posso te ajudar.


- Você quer?


- É exatamente o que quero.


- Mesmo? E o que acontece depois?


- A lenda diz que que a abelha, além de picar e fazer mel, ela carrega pólen. Então a gente vai abrir a flor com o pincel, abrir terreno para a abelha, criar o clima, entende?


- Eu acho que é você que tá criando clima falando desse jeito. Falando de abelha, de abrir a flor e de pitanga.


- Vai dar uma volta comigo de bicicleta?


- Eu rodaria o mundo com você. Vai comer geléia de pitanga comigo depois que tudo der certo?


- Você quer?


- O quê? Dar a volta de bicicleta? Que eu rode o mundo com você? Que você coma geléia de pitanga comigo?


- Eu quero isso. (dá um beijo nela)


- Sabe, o seu beijo tem um gosto bom.


- Pitanga também.


- Sério? Você já provou?


- Adocicado e ácido. Levemente ácido.


- Dizem que beijos ácidos são os melhores.


- Dizem?


- Dizem. Talvez seja o mesmo pessoal do “pincel nas flores” quem diz isso.


- Pode ser. Você é engraçada.


- E você é tão bonito.


- E a gente vai dar uma volta legal de bicicleta. Várias voltas.


- E a gente vai ver a pitanga nascer e depois vai fazer geléia juntos.


- É. A gente vai sim.


- Pra sempre juntos. (rindo)


- Pra sempre. (rindo)


- Então tá. Espero você.


- Você tem pincel lá?


- Até tem. Mas vou comprar um especialmente para esse fim. Acho que merece, não é?


- Não sei não...


- Pincel novo pode causar efeito contrário...


- Sério? Então melhor não arriscar. Usamos um dos meus.


- Fechado. Eu passo lá.


- Eu te espero. Um não sei o quê me diz que vai dar certo.


- Já deu. Tá sentindo?


- O que, menino?


- O cheiro da geléia que a gente vai fazer.


- Tá bom! Tchau, então.


- Tchau, até lá.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A CRIANÇA, O ERRO E O POEMA

Bom dia, leitor! Há quem diga que feriados são péssimos para a economia do país. Que as empresas perdem muitos milhões. Pode ser. Eu prefiro achar que um tempo de folga entre um tostão e outro é muito bem recebido. Porque aparece a chance de olhar as coisas de um jeito diferente. E isso é tão bom! Esse último feriado eu tive a chance de ver Gabriela, na gracinha de seus seis anos, declamando o poema “Meus errinhos” de Pedro Bandeira. A platéia era composta de seus pais e os amigos, mais duas crianças. O cenário era uma prainha encravada no mangue, em São Chico. Sem vento. Final de tarde de sol esquentando nossas vidas. E Gabriela, entre pedidos dos pais e de todos, finalmente ergue-se e inicia sua fala silenciando a todos. O que me chamou atenção foi a força que ela imprimiu no declamar. O que ela captou do texto. A intenção. O desejo contido nas palavras do poeta que ela tomou para si, carregando de força genuína cada palavra. Um entendimento muito peculiar, mas não menos real. Eu que amo tanto poesia fiquei muda! Poema para mim era ela ali declamando e sentindo, o dedo em riste algumas vezes, as expressões, o olhar que se modificava a cada entonação de voz. Lindo ver Gabriela, que encontrou maneira de dar voz ao seu desejo. Admitindo em expressões e entonações que erra, sim. (Mas quem não erra?) Construindo uma ideia sobre isso e se colocando diante dela. Numa tarde de sol e sororoca na brasa, que mais poderia arrebatar o coração de alguém que vive da palavra? O erro talvez? Talvez. Mas aproveito a força da menina e digo. De que outro modo poderia ser? É claro que nossa consciência das coisas vai fazendo com que o posicionamento diante delas se modifique. Mas não nos livramos de todo de alguns borrões. Dos castigos e broncas. E dos conselhos, que ao contrário da lenda “se fosse bom era vendido em farmácia”, muitas vezes têm o seu espaço e entram muito bem. Sobre o poema, inclusive, está na beira da vida: presente em cada folha, toco de madeira, olhar de menina que cresce, que aprende, que erra. Também nos nossos erros de gente grande. Na nossa vidinha de adulto. Mas o erro maior, leitor amigo, talvez seja não criar tempo para correr o risco de errar e correndo esse risco, acertar. Veja, o domingo, apesar do sol, tinha um vento danado. A ideia de pegar o barquinho e sair mangue a dentro, para muitos poderia parecer insana. E creiam. Pareceu. Mas a gente que insistiu terminou por achar um oásis com sol e protegido do vento. Assistimos ao preparo inusitado de uma sororoca que nos encheu de prazer e mais tarde, quando o sol começa a esfriar um pouquinho, surge Gabriela e o poema. Surge a possibilidade de se deixar arrebatar por tudo isso. Pelas possibilidades que moram lá na pontinha do que às vezes parece assim-assim, e que de pronto, a gente nem sempre vê. Esse é o erro maior. Pra terminar mando um pedacinho do poema que ela declamou e peço: Poeme-se, leitor. Poeme-se. O poema está ao pé da vida, em cada fração de segundo. É só você se colocar nessa fronteira. Molhar a pontinha do dedo na água que parece fria. O resto acontece.
... Só o que eu peço é que saibam que eu necessito errar.
Se eu não errar vez por outra,
como é que eu vou aprender.
Como se faz pra acertar? ...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Inês e a Concha

Inês doura ao sol. Recostada no barco fecha os olhos para ver as coisas de outro jeito. Escuta as vozes que se misturam e procura ler através do som das vozes. Mais ao fundo tem o som do remo cortando a água e que ao fim de cada movimento resvala no barco. Resvala nela. Lembra da concha do mar que ficava sobre a lareira da casa dos pais quando era criança. Do barulho que havia dentro da concha e o pai mostrava para ela. Era mágico escutar o mar tão lá dentro daquela concha. Tão longe e tão lá dentro. Todinho em suas mãos. Com as mãos ela pegava e levava bem pertinho do ouvido. O mar então molhava e salgava Inês deleitada. Reverberava lá dentro da concha e também dentro dela. Agora, assim recostada ela lembra disso. Lembra do som que escutava na concha (onde estará?) e que agora reverbera nela. Inês é concha e sente o mundo ecoar dentro dela. O dia quente de sol, os sons das vozes que escuta, o roçar do remo no barco. Tudo roça nela. Roça e reverbera. Ela própria a estrutura da concha. Interior semelhante a um labirinto em espiral que concentra e amplifica os sons, produzindo um efeito parecido com o barulho do mar. Inês é caixa de ressonância. É o próprio mar e a soma do que reverbera. É a soma de ecos e ecos produzidos dentro da concha. Dentro dela. Que vêm de fora e penetram nela. Como a concha, Inês capta tudo que é residual no ambiente, até os sons que se propagam em todas as direções e, se é possível dizer isso, passam direto pelo ouvido. Ela é concha e capta. E dentro dela as ondas repercutem, refletem-se nas paredes. Concha. Caverna. Voz e o som da voz. Remo e o som do remo. Reverberam em Inês e Inês reverbera. Talvez. Talvez se a voz que escuta não falasse ela reverberaria? Não sabe. E se na verdade não é possível se ouvir o som do mar na concha? Se é uma associação humana com o barulho do vento transitando pela parte interna e que então vira marulho ecoando na parede da concha? Talvez seja tudo uma grande bobagem e Inês escutasse o mesmo mar encostando uma xícara no ouvido. Apenas uma xícara. Nem quer saber. Sabe que o som que vem de fora (uns mais que outros), entra na concha e se envolve naquele espaço, naquela espiral e nas paredes . E reverbera. Como criança, sabe ler as coisas assim e quer escutar as coisas reverberarem nela. O som das vozes. O som do remo que resvala e todo tipo de contato. Como criança, num instante vai descobrindo o momento certo de dobrar o corpo para aumentar a amplitude do que deseja dentro dela. Dentro dela. Sabe que se balançar na freqüência certa, na freqüência do que lhe parece tão natural, logo vai chegar à ressonância e obter grande amplitude de oscilação. É física e Inês nada entende disso. Intuitivamente sabe. Talvez, como se seu corpo fosse um instrumento musical. Um violão? E as vibrações do dedilhar as cordas entrando em ressonância dentro da caixa de madeira que ela é. Do instrumento que ela é. Amplificando o som e dando o timbre. Percebendo as diferentes freqüências. Girando e girando o dial para sintonizar o que escapa. Para sintonizar o que quer dentro. Variando as correntes elétricas (se existem) e captando aquela energia. Talvez por isso Inês prefira o estômago vazio. Nada que possa alterar a frequência natural de seus órgãos internos e quebrar a ressonância. Inês é mulher que quer as coisas por inteiro. Por inteiro. Até mesmo se o dedilhar durar meio segundo. Respira e reverbera.

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SOBRE QUESTÕES RESPIRATÓRIAS E AMORES INVENTADOS

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