sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

2009 é bala. crônica publicada no Jornal A Notícia em 12 de fevereiro de 2009.

Em 12 de fevereiro de 2009 publiquei a minha segunda crônica no jornal. Era um momento outro, mas também era início de ano, como agora. E ainda agora, como antes, ainda sinto um friozinho na barriga a cada crônica nova. como se fosse a primeira vez. e isso é bom :)) então publico aqui esse momento, onde falo de "possibilidades que atravessam nossas vidas e mudanças". que nessa linda noite de lua cheia, cheia de intenções, a gente possa vislumbrar isso tudo com alegria e disposição de fazer o "nosso fazer" cada vez melhor e sempre, sempre (de preferência) mantendo a sensação de friozinho na barriga :))
Obrigada a todos que tem partilhado comigo pensamentos e ideias a respeito das coisas. que a gente possa germinar juntos, florescer juntos e implantar a boa revolução. sempre.

2009 É BALA.

De todas as formas de mudança, a que mais gosto é a que não tece motivos para acontecer, não tem razão ou razões que a expliquem ou justifiquem – gosto daquela que se interpõe feito tiro – entre o disparo e o alvo – a razão é o entre – é ser atravessado por ela e não poder nada, a não ser conter o furo provocado, os rastilhos de pólvora e o vazio como constituição permanente de você. Qualquer que seja o lugar, independente de onde a mudança te leve, você se configurará assim, com o vazio da bala. Dar conta desse vazio é experimentar desassossegos, cheiros diferentes, rajadas de vento. É dar a estar no conflito, no sofá de uma sala de espera, somente no aguardo da sua vez de entrar. Dar ou receber o diagnóstico. Assinar ou não o contrato e assumir as prestações que te farão refém ou algoz. Os papéis todos da gaveta espalhados em cima da mesa. Um foco de luz roendo um pedaço do seu chão.

Tem uma frase que diz: coragem não é ausência de medo – é o medo mais o desejo de fazer determinada coisa, de superar aquele medo. J Agora... o que nos coloca nesse ponto, exatamente no ponto onde a atitude vai fazer a diferença é que são elas... Outro dia li algo num fanzine na casa de uma amiga, alguém dizia: “Nossa, isso mexeu no arco da velha do meu inconsciente! E se perguntava: Como devo perceber isso? Como perceber de forma revolucionária? Desatrelar a percepção da alienação?

E então talvez o melhor seja colocar todas as cartas de uma vez, começar por aquilo que nos toca mais imediatamente. Que vem do rol das urgências da vida, sabe? E fazer como o outro cara disse: tirar o véu! Desmaterializar a coisa toda para dar a ver de uma outra forma – como um animal à espreita – atravessado e revolvido pelo fato e envolvido por ele até a raiz dos cabelos. Toda a nocividade da coisa dentro. Mas sem piedade, sem devoção – simplesmente porque desse jeito a gente não vai mudar coisa alguma. A mudança é que nos muda – “nos faz acessar a potência, “criar canais, poros, portas, pontes”. Quando a gente atravessa e chega lá, a gente vê este lado do lado de lá. Mudam as perspectivas. De acordo com o cara, acessamos o estado onde nosso desejo varia para produzir um outro modo de desejar. Isso é um jeito de revolucionar. De rasgar o véu para habitar esse campo de forças dentro da experiência do tempo que nos atravessa.

A raiz desse texto me atravessou no início de mais um ano que se coloca, que se atravessa. Na possibilidade de estarmos juntos aqui todas as quintas-feiras e toda a surpresa que isso pode acarretar. Recebi emails na sequencia da publicação da minha primeira crônica J Fiquei muito feliz com a possibilidade concretizada dessa troca. Conhecer um pouco mais dos leitores, ter a oportunidade de conhecer um pedacinho que seja das coisas que pensam. Obrigada a todos. Cada novo ano se interpõe como bala. Cada vez mais. Entre os rastilhos de pólvora e o furo permanente que nos habitará e com o qual atravessaremos os anos seguintes existe, de presente, a surpresa de podermos reinventar outros modos de desejo para implantar a boa revolução – aquela que acontece e derrama seus resultados feito semente, que cai na terra, vem a chuva, vem o sol, e então germina... Vamos?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A MATURIDADE

No dia 15 de fevereiro completei 18 de casamento. Há 3 dias. A gente fez uma festa bacana lá na praia. Nada demais. Alguns amigos que partilham da nossa amizade boa parte desse tempo, peixinho na brasa e um espumante para coroar. Ah, também uma torta de maçã que adoro: Tart Tartin. Já falei aqui sobre simbologias e o quanto isso faz parte da nossa vida. Até a maçã. Aquela das histórias de Adão e Eva. Da serpente. Que alivia dores de estômago. A maçã do amor. O afrodisíaco da coisa. Pouco antes da gente se casar, quando meus pais comemoravam 25 anos de casamento, eu escutei minha mãe comentar com uma amiga: “Se eu não tivesse ficado casada por 25 anos, não teria vivido para sentir a felicidade que estou sentindo hoje”. Na época eu não entendi. Esse preâmbulo é para dizer que hoje eu entendo. É uma espécie de reparação do meu próprio pensamento e entendimento das coisas. Porque quem está junto durante anos sabe que o dia-a-dia não é feito só de flores (como eu disse semana retrasada, é feito também de saco de sal, de limão, limonada e tanta coisa!). Meu casamento atingiu a maioridade. 18 anos. Isso é ridículo porque maioridade não vem com data marcada. Aliás, nada. Mas é simbologia de novo. A maioridade vem quando a gente investe nela. Percebe pequenas mudanças. Agrega coisas. Manda coisas embora. Dribla asteróides que caem por cima. Às vezes se recupera de bombas e coquetéis molotov. É uma espécie de mistério a convivência. Tudo que se troca. E vai constituindo um e outro. “Amor é quando a gente mora um no outro”. Sábio Quintana. É certo que não há garantias e nada é para sempre. Mas o que é pra sempre? Estou com Vinícius: que seja eterno enquanto dure. Djavan canta: “Só eu sei, os desertos que atravessei”. Foram e são muitos no decurso de uma convivência. Às vezes mais de um por dia. E quando eu me esqueço dos oásis que existem pelo caminho, algo me lembra. E então eu vejo. E vejo também as ilhas. Feito uma que tem lá na praia e demos um upgrade nela pra comemorar e simbolizar isso tudo. Eu quis colocar uma mesa na ilha. Bem embaixo da palmeira. Até o marcineiro abriu uma brecha na agenda e fez o serviço porque era para comemorar aniversário de casamento! As pessoas se encantam com o amor. Mas quero falar da mesa. Resolvi pintar nela uma reprodução da tela “A Dança” de Matisse. Uma imagem que me agrada há muito tempo e que representa tanto a vida. E partimos para a empreitada. Eu tracei as primeiras linhas. Fui esboçando o desenho e aos poucos o desejo de ter ele lá foi se concretizando. Enquanto isso ele adornava a churrasqueira com pinturas rupestres. Depois das tintas, os contornos, o verniz e o desejo estampado. A mesa em volta da palmeira família que plantamos quando chegamos aqui em Santa Catarina. Duas hastes tão pequenas que agora atingem uns 7 metros talvez. A gente vai crescendo juntos. Acomodando nossos desejos nessa vida-fagulha. Um dia de cada vez e um depois do outro. Para sempre e enquanto a gente quiser a gente vai talhando as coisas. Sobrevivendo à elas e ficando cada vez mais amigos. E amantes. E a gente vai olhando o em volta bem de perto. Sem medo. Vai crescendo que nem a palmeira. Até quando Deus quiser. Até quando a gente acreditar. Porque é também uma questão de crença numa intenção. Num desejo. Foi bacana nós e os amigos em torno dela. Em torno do desejo cristalizado. Da mesa e dos 18 anos de convivência. De ter os amigos queridos juntos da gente e desse desejo. Depois eu li um relato sobre a obra. Engraçada coincidência. Ele pintou o quadro em 1910. Nossa reprodução foi em 2010. Exatos 100 anos. Isso sim é maioridade. É beleza que transcende o tempo. Mas a gente segue ensaiando os passos do artista e o desejo de eternizar nossas construções. A vida é uma obra. A gente pincela daqui e dali. Joga um tanto de azul ali. Vai desenhando nosso infinito. Ponto por ponto. A gente dá para ele o tamanho que quiser.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

SOBRE ARRUMAÇÕES E OUTRAS COISAS

SOBRE ARRUMAÇÕES E OUTRAS COISAS




Sobre Bernardo Soares, semi-heterônimo de Fernando Pessoa, ele disse: “é um semi-heterônimo porque, não sendo a personalidade minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afetividade. Aparece sempre que estou cansado ou sonolento”. Isso não é maravilhoso leitor? Em estado de sonolência você é você mesmo, mas apesar disso você tem limitações técnicas... está sonolento, lembra? Quer dizer: seu raciocínio torna-se limitado e você fica de certo modo, despersonalizado (quase um outro?). Cito isso porque acho incrível a consciência da pluralidade que este homem tinha – todas as personalidades que o habitavam internamente (e ele fez um uso esplendoroso disso!!!). Desse imenso conteúdo que se não tivesse tido voz, sabe lá leitor, sabe lá)... O quanto escrever não nos resgata de uma crise e nos coloca nela? Penso nisso às vezes. O quanto escrever nos coloca no “olho do furacão” e daí simplesmente não dá mais para não mexer em tudo. Porque desse lugar, vemos! Depois de mexer em uns guardados lá na casa da praia - umas fotos, uns muitos pedaços de jeans (ex calças minhas) juntos numa sacola e o sonho da colcha que comentei com minha mãe quando da vinda dela aqui – os pedaços esperam por ela, por mim... (pela colcha?), e de ter folheado um livreto de Fernando Pessoa que lá estava porque alguém que é muito querido me emprestou uma vez - os poemas ainda esperam -, fiquei fazendo essas conexões... Rsrsrsrsrs pensou isso? quantos eus, quantos ais! Fernando Pessoa, esse homem sem possibilidades de definição, fundamentou seus heterônimos (até onde sabemos), basicamente por conta da pluralidade (dessas muitas personalidades que habitam nosso mundo interior), da consciência da multifacetada vida portuguesa (ele dizia: “O bom português é várias pessoas – Nunca me sinto tão portuguesamente eu como quando me sinto diferente de mim”), e de sua carga dramática, que fazia, segundo ele, “Voar outro”.

Ah leitor, no meio da bagunça que armei lá na praia (e da beleza que ficou depois!) eu derivei na profundidade desse homem! Sendo eu uma criatura de sentimentos variáveis, às vezes mais, às vezes menos, se como ele... se eu puder substituir o temperamento pela imaginação e o sentimento pela inteligência... ó! sais minerais! Essas coisas foram me passando em meio a roupas que terminavam de secar no sol de final de tarde, e madeiras velhas que separei para uma fogueira futura, colocando fora, literalmente, coisas que... (porque isso estava guardado?), leituras, enfim – tirando alguns quilos de minha casa e pensando na crônica da semana... Mas com mil carrapatos leitor! Você não sai da minha cabeça!!! E aquele frio na barriga do 1°dia continua, se me conheço, estará sempre comigo. Agora por exemplo, são quinze para as cinco da manhã desse dia que te descrevi. Isso tudo ficou em mim, né? A adrenalina inclusive; e advinha o que aconteceu? Cansada, tão terrivelmente cansada que estava quando deitei, inda perco o sono e aqui estou! Descascando o que me habita em palavras escritas. Sonolenta, sem o raciocínio usual e com um outro tipo de lógica? (de uma outra eu?), mas ainda assim eu? Deixa pra lá! Importa o seguinte: me faz muito feliz estar conectada com você. Obrigada!!!”

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

CARNAVAL TECNO-CIENTÍFICO

Enquanto passa o carnaval, as batidas de funk, tecno e sertanejo se sobrepõe numa combinação alucinatória, penso. Eu penso muito, ele me diz. Não faz mal – gosto de pensar, articular as idéias dentro do cérebro – as aulas de neurofisiologia... Imagine... O giro cingulado responsável por essa coisa toda. Enquanto penso olho o moço lá no alto da pedra da Prainha; junto outros mais, seu cabelo repicado ao vento, parece que é repicado, deve ter uns dezenove... ele olha e estuda as ondas... abstraio e já estou noutra praia, eu tinha dezenove, os meus cabelos eram ao vento. Agora estou aqui. Estamos todos aqui. Enquanto isso o filho da minha amiga segue narrando suas peripécias. É meu amigo Rui. Filósofo de primeira esse garoto. E sem mais ele arrebata: ir é fácil, voltar é que é difícil. E pela manhã, quando eu acordo e todos ainda dormem (só ele no quintal), enquanto sorvo o primeiro café do dia e administro pensamentos que querem ocupar espaço, olho o tronco com bromélias que adorna a entrada da casa – um caminhão arrastou da praia até a entrada de casa, depois foram 5 homens para erguê-lo e depois eu a fincar-lhe as bromélias – agora tem um naco dele no chão (é Rui que abriu para desvendar o mundo dos cupins e formigas) eu muda olho, ele solta: Tia, sabe que tem uma espécie de formiga que é gigante? É uma formiga pré-histórica – ninguém podia fazer mal pra ela, ela só morre por um motivo – se for atingida no seu ponto vital, bem aqui, e aponta o meio do seu peito, instalado no meio desse corpinho (lindo) de sete anos, que tem também a boca que me fala, o olho que me olha. O filho da minha amiga é um acontecimento. É história que não se repete. Que nem o pedaço do tronco no chão e a bromélia despencada. Que nem a visita dela. A gente não se via há uns... o que? 12 anos? A gente se encontrou em São Paulo e falou vagamente sobre a possibilidade de se reunir no carnaval. Ficou no sonho um tempo, nem chegou a virar limbo (o carnaval chegou antes que ela pudesse mudar de idéia) e lá veio ela – do interior de São Paulo, em seu Uno Mille, com Rui, Sabrina e Júlia (a cachorrinha), os oniguiri (bolinhos de arroz) preparados pela mãe Harue e atravessaram: Indaiatuba-SP, Salto-SP, Itu-SP, Sorocaba-SP, Jaguariaíva-PR, Wensceslau Brás-SP, (onde pararam para fazer xixi, na saída erraram o lado e terminaram por quase chegar em Ourinhos! - E não é que na volta o carro quebra em Wensceslau Brás e lá se vão 500 reais, 5 horas e o sonho de chegar na praia antes das cinco! Saíram 4 da manhã da sexta de carnaval com o plano de chegar em São Francisco por volta das quatro da tarde. Deu que estava na saída de Curitiba às sete da noite. Deu que por volta de dez e meia da noite parou e dormiu em Joinville (achou um hotel ótimo perto da BR, preço ótimo e atendimento melhor ainda, cujo simpático dono deixou até que a cachorrinha dormisse no quarto). Ficaram, sábado cedo acordaram, tomaram café da manhã (onde ela esqueceu a farinha de casca de maracujá que tem lhe feito muito bem) e cedo, antes das 9, estávamos todos em São Francisco. Fazendo o sonho acontecer. O sonho e a história que a gente vai ter para lembrar e contar algum dia. Sabe leitor, isso tudo é muita gordura faturada!!! Estranhou? É meu amigo Rui dando outra vez o ar da sua graça com uma tremenda cara séria! A vida está sempre me surpreendendo e mais e mais eu gosto das pessoas. Pessoas são seres muito antigos. Vivem na terra desde.... é o Rui que sentou ao meu lado e já está entabulando uma outra conversa científica.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

VIVER FAZ BEM À SAÚDE




Falam tanto em coisas que fazem bem para a nossa saúde! Dieta mediterrânea, suco vivo, dieta de acordo com nosso tipo sanguíneo, 10 copos de água por dia, um copo de água em jejum, jejum depois das 20 horas, café. Tomar só água por três dias. Comer só melancia durante uma semana. Arroz e feijão. Jejum absoluto. Incrível. A lista é interminável. É tanto o que nos dizem, tantas novidades e reedições e revisão de coisas e conceitos, que ficamos até na dúvida sobre mudar nossos hábitos... O que é certo afinal? Equilíbrio parece uma opção mais razoável do que “comprar” filosofias e dietas que não nos pertencem. Quando fazemos isso temos que ter em mente o processo das coisas. Pois se a soja faz bem às japonesas, é preciso saber que elas a ingerem quase cotidianamente desde a mais tenra idade. Se yoga faz bem à saúde corporal e mental dos hindus, do mesmo modo é preciso saber que há uma filosofia por trás da prática, uma filosofia implícita na vida. Nos dois casos uma coisa endossa a outra – filosofia e prática - de modo que se saímos “comprando” idéias parciais, viramos marionetes atrás de modismos. Porque vira uma mudança sem profundidade. Equilíbrio é a chave. Até para poder sair dele de quando em quando. Olhar a vida e as coisas incríveis que ela oferece como “pílulas diárias” de saúde. Uma aula que te enche de novos conhecimentos, um professor que te faz “levitar” pelas coisas novas que acrescenta. Um livro que te faz viajar sem sair do sofá, ou da rede. Ficar às vezes na rede balançando no ritmo do impulso é algo que faz muito bem para a saúde. Tomar banho de chuva. Tomar banho quentinho. Tomar banho gelado no verão. Ficar de molho na agüinha do mar, na aguinha do rio. Preparar um prato que você está com muita vontade de preparar e comer. Uma delícia. Oferecer esse prato aos amigos – delícia sem preço. Ver alguém feliz é muito bom. Participar de algo que pode fazer alguém feliz, tanto melhor. Ter parte num projeto que beneficia um bom punhado de gente. Coisa sem preço. Errar e ter consciência de que isso é “absolutamente normal” faz muito bem para a saúde. Acertar depois de ter errado é muito bom. Enche a gente de bons hormônios. Enche a pele de viço. Um olhar apaixonado de alguém eleva essa sensação à enésima potência. Saber que alguém te ama com amor despreendido. Se fosse medicamento, estaria em falta. No cosmos. Amar alguém com amor despreendido? Cura quase todos os males. Então façamos o seguinte, vamos procurar comer direitinho, nos alimentar bem dentro possível, esquecer um pouco esses pacotinhos, enlatados e coisas do gênero e vamos amar muito e nos permitir ser amados. Sobretudo amar a nós mesmos. Podemos perder um amor, mas não o amor próprio. Sejamos nossos melhores amigos. Vamos permitir o que chamam por aí de vacuidade. Palavrinha complicada pra dizer que o que vale mesmo é conceber e aceitar a vida na sua imperfeição. E em tudo que pode haver de barroco nela. (Salve Aleijadinho!) Aceitar a nós, ao outro e a vida na sua imperfeição e beleza.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

PARA FALAR DE AMOR

Jornal A NOTÍCIA, 04 de fevereiro de 2010. Caderno ANEXO p.03

Para falar de amor é preciso falar de saco de sal e de limão. Lembro de minha avó dizendo que só sabe o que é amor quem já comeu um saco de sal juntos. Roda por aí que amor é quando alguém te dá um limão e você faz uma limonada. É engraçado. Eu posso dizer que amor é quando a gente faz um poema para alguém. Quando alguém faz uma música para alguém, dizem que é amor. Quintana disse: “O amor é quando a gente mora um no outro”. Danilo Caymmi cantou o amor. “O que é o amor? Onde vai dar? Parece não ter fim. Uma canção cheia de mar que bateu forte em mim”. Dizem também que amor é tirar da sua boca para alimentar alguém, fazer o bem sem olhar a quem. Mas o que é o bem, não é? Sabe lá. Amar é discórdia. Lacan dizia: “Amor é dar o que não se tem a quem não é”. Concepção irresistível de tão linda. Eu amo.Tu amas. Ele ama. Nós amamos. Vós amais. Eles amam. Você ama. É a força do verbo. E dizem que amar é jamais ter que pedir perdão. Amar é sofrer. Amar é quando se ri junto e então um olha dentro do olho do outro, e ri mais ainda. Amar é conviver. Morrer. Ceder. Calar. Passar a bola. Incrível! Dar um tapa na cara por vezes é amar. Morrer de ciúme. Escrever. Lavar uma pia cheia de louças. Cozinhar. Tirar um cisco do rosto de alguém. Um bichinho, uma folhinha. Até um cabelo teimoso que entra na frente do olho. Matar uma barata. Sair de cena. Entrar em cena. Abrir a janela e jogar as tranças. Eu te amo Rapunzel! Tomar veneno como os meninos de Shakespeare. É partir. É ficar. É cantar. Esconder coisas para alguém achar. Como um anel de brilhantes no meio de uma truffa? Pode ser. É escrever “Eu te amo, Sara” num outdoor daquela avenida onde ela sempre passa. É passar na frente da casa de quem se ama. Olhar. Divagar. Amar é divagar. Mas também é manter os pezinhos no chão, bem juntinhos de quem se ama. Amar é fazer e não deixar pegadas. É ver o rosto de quem se ama em outros rostos. É só pensar na pessoa. É se sentir uma pessoa. Amar é assustar a passarada no meio do caminho e se rir disso. Amar é apreciar o vôo de quem voa. Tremer enquanto o outro voa. Amar é tremer quando ela chega. Quando ele chega. É ficar sem palavra nenhuma na boca. Amar é beijar o rosto, a testa. É transcender o beijo que voa. É fazer a outra pessoa sentir que voa. Amar dá vontade de dar beijo na boca. É liberar a boca para dizer: Eu te amo. Amar é andar num metropolitano. É dizer, sou sim soteropolitano! Que me diz, Coriolano? Amar é fazer graça com as coisas, até com ideia de amar. Que é sim, apenas uma ideia que é sua e que é diferente da ideia de quem você ama. Mas são ideias de amor. Ideias de amar. E valem. Amor é não colocar preço. É colocar as cartas na mesa. É esconder o jogo. Amar é entrar no jogo. Abandonar o barco. Amar é dizer: Eu vou nadando. Sambando. Cantando. Eu vou com você. Amor é “eu & você” escrito no tronco da árvore. Ou na areia, que depois a água do mar lambe e é testemunha disso para sempre. Amar é testemunha que se cala. É um grito, de repente, no meio da sala. É colocar as roupas todas da mala e dizer: Adeus. Dizer Ah! Deus! Como eu amo! É, diante do tanto que nos assombra, lembrar coisas como o andróide que salva seu caçador em Blade Runner ( se você não assistiu, assista) e cantar de peito aberto como Maria Bethania, que tão lindamente cantou a música “Sonho Impossível”: “Sonhar, mais um sonho impossível”... Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz... E o mundo vai ver brotar uma flor do impossível chão”. Salve a força disso, que afinal, é amor também.

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SOBRE QUESTÕES RESPIRATÓRIAS E AMORES INVENTADOS

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