quinta-feira, 24 de setembro de 2009

DOMINGO EM JOINVILLE

Crônica publicada no Jornal A Notícia de Joinville em 24 de setembro de 2009.

Bom dia Joinville! Bom dia Flor do dia! O último domingo de inverno na cidade foi um domingo pré-primavera, de sol nascendo um pouquinho antes das 7 horas, e que eu tive a oportunidade de aproveitar por inteiro. Saí para fazer uma caminhada e entre tantas pessoas também caminhando, não é que passou uma senhora com dois botões de rosa nas mãos e me disse: Bom Dia! Feliz respondi: Bom Dia! Caminhei pela Rua Dr. João Colin desde a Rua Benjamin Constant até chegar ao Shopping Müeller e então segui até o Batalhão, contornei, andei um pedaço da Jacob Eisenhuth e retornei ao Shopping Müeller, onde parei para tomar um café. Sentei numa mesinha com sol no aconchegante espaço do Empório e me pus a pensar Joinville. Pensar a ideia dos parques. Joinville poderia ter um parque. É, poderia. Mas pensando nas pessoas que vi caminhando junto comigo, voltei a pensar na minha velha ideia da cidade feita em parque (já falei sobre isso em outras crônicas). Imagine o leitor a Rua Dr. João Colin arborizada! As pessoas tradicionalmente caminham lá. Muitas pessoas. Aposto que se sentiriam muito melhor num caminhar arborizado. Pensei isso especialmente quando voltava com o sol já quase a pino. João Colin, a rua que corta Joinville de Norte a sul mudando de nomes. A rua-parque com ciclovia. Estudantes, trabalhadores e passeadores presenteados. Lindo. Na volta encontrei uma amiga e fomos almoçar em casa. Comidinha, papinho bom e lá pelas três mais uma passeio ao sol. Ela precisava comprar umas coisinhas e paramos então o carro no BIG. Saímos do mercado a pé para antes das compras, tomar um cafezinho. Mais um pouco do sol a nos aquecer. Voltamos ao mercado e compras feitas, já quase cinco horas da tarde, lá mesmo no BIG, paramos para tomar um chopp no Quiosque Chopp Brahma. Escolhemos uma mesinha alta no lado que fazia frente para o sol que ia começar a se pôr. De novo pensei: Joinville não tem parques. É, não tem. E bem poderia ter! Mas enquanto isso não acontece, insisto: um novo olhar sobre a cidade é o que conta para transformá-la num grande parque. Cidade das Flores. Cidade das bicicletas. Cidade parque. Inicialmente é só plantar árvores nas vias. Não é possível ciclovia em algumas ruas? Que se possa circunscrever linhas para bicicletas nas calçadas ou deixá-las, como em Amsterdã, a circular livres por elas. Na rua é que não podem estar! E trabalhar os espaços públicos como espaços de lazer também. No nosso caminho para o café vimos o pátio do Centreventos Cau Hansen repleto de crianças e adultos. Andavam de skate, patins, empinavam pipas. Lembrei da minha infância no Parque Ibirapuera, eu mesma de patins a rodar no pátio do saguão de exposições. Não tem parque? As pessoas usam o espaço disponível! Por que então não trabalhar tais espaços com esse viés? Veja, terminei meu domingo no quiosque do BIG. Vista para o estacionamento. Carros por todos os lados. Mas tinha gente pegando filme na locadora, tomando lanche no BIG, namorando em baixo das árvores do estacionamento; e virando a cabeça a gente via aqueles que caminhavam na Beira Rio e as árvores da Beira Rio, e de frente pra gente, lá na frente, vendo o sol deitar ao fundo do skyline das montanhas, dando adeus ao último domingo do inverno. Poderia ter um parque? Poderia sim. Estamos aguardando por ele. Mas pode haver qualidade de vida enquanto isso, durante isso, depois disso.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

IDALINA

Crônica publicada no Jornal A Notícia de Joinville em 17 de setembro de 2009.

Idalina, agora que vai completar 64 anos, pretende começar a trabalhar. Sempre viveu com os ganhos do marido e depois que ele se foi, vítima de um câncer na próstata, passou a viver da aposentadoria dele. O dinheiro - se não permite excentricidades como pagar a escola dos netos e ajudar um pouco a filha que sempre diz: Ah mãe. Eu queria era mais dinheiro. Aí eu seria feliz – tem permitido a tintura que recobre o branco dos cabelos, um ou outro presentinho para os netos e os filhos, e pagar as aulas de dança de salão que frequenta todas as quartas e sextas-feiras. Também o supermercado. Os remédios para a pressão e um dinheirinho que coloca todo mês em uma caderneta de poupança para fazer uma viagem à Itália. Um dia eu vou. Diz sorrindo. Enquanto isso tudo não acontece ela preencheu com cuidado a ficha para a vaga de emprego. Maria Idalina Silveira Castagnetti. Esteja em paz meu italiano amado. Ela pensa pensando no marido. Viúva. 63 anos. Sexo feminino. Casa própria. Obrigada meu Deus. Obrigada. Dois filhos. C.P.F., R.G. O espaço do número da carteira de trabalho fica vazio. Não por muito tempo. Todos os papéis foram providenciados e o moço de rosto surpreso, que é contador, e está preparando tudo, vem à mente de Idalina. Ele prometeu tudo pronto em dois dias. Depois disso ela entregaria na Escola ali perto de sua casa para finalizar o contrato de trabalho. Ela sorriu. Pensou que ainda poderia surpreender. Respirou. Não escondeu de si mesma os receios que sobrevieram. À sombra do marido por tanto tempo e os vazios que foram aumentando de tamanho. Aumentando até que ela não se enxergasse mais. Então um dia Francisco se foi e o espelho desceu no meio do quarto em que ela chorava sentada na cama. Bem à sua frente. E ela se viu como há muito não se via. Idalina se viu. Viu até as roupas que cobriam seu corpo. O pálido delas. Entregou a ficha para a diretora da Escola. Sorriram as duas. Nos vemos em duas semanas. Prepare-se. A tarefa será árdua. Sorriram outra vez. De volta a casa lembrou mais uma vez do dia do espelho. Do pálido. Foi até o armário e abriu todas as portas. Colocou tudo na cama. Separou, vestiu, olhou no espelho muitas vezes. No início da tarde tinha uma pilha de roupas para doar. Levaria até um Lar de Idosos que ela conhecia. Sobre a cama poucas coisas restaram que ela decidiu manter. Dia seguinte iria comprar roupas novas. Iria agora afinal. Tomou um banho que a encheu de mais vigores e foi. Já na rua sinalizou para o táxi que passava. Boa Tarde. Shopping Muller, por favor. Falaram do tempo como é de hábito nas conversas dentro de um táxi. Falaram da chuva incessante e do verão que viria afinal. Ah! Viria sim. Ela nem contou ao taxista, mas já estava dentro dela o verão que ainda ia chegar. E foi no meio do caminho, ou quase isso, na esquina das Ruas Visconde de Mauá e Benjamin Constant, que toda essa perspectiva iluminou eternamente Idalina. Ali mesmo o coração parou. Na alegria de tanta perspectiva, o peso da carreta sobre o táxi e muito vidro estilhaçado. No preto do asfalto, diante da multidão que se alvoroçou, o sangue que ela verteu caminhou indiferente, desceu até a Rua Blumenau e seguiu insistente até o Shopping. Em frente à escada rolante rodamoinhou junto com vento que soprava. Agora, nesse 13 de outubro que se avizinha, Idalina faria 64 anos. Táxi, táxi. Boa Tarde. Shopping Muller, por favor.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

TEMPORADA DE ALCACHOFRAS

Crônica publicada no Jornal A Notícia de Joinville em 03 de setembro de 2009


Eu gosto de rituais. De modo que nessa primeira crônica de setembro, mês onde, pelo menos em tese, vamos entrar na primavera, quero falar de um jantar especial, um jantar de ritual que fizemos nessa noite do dia 01. Um dia antes fomos ao supermercado. Compramos alcachofras. Como são “flores”, deixamos num vaso com água. Enfeitaram a cozinha por quase dois dias inteiros. Pertencem à mesma família dos girassóis e das margaridas, e formam campos lindíssimos em várias regiões da Europa. Dizem que na época do Império Romano era uma iguaria na mesa dos nobres logo depois do inverno. E é mesmo uma iguaria. Primeiro por sua beleza. Depois por tudo que contorna o saboreá-la. Há diversas formas de preparo, mas nesse dia optamos pelo modo mais simples e tradicional. Uma receita do sul da Itália que aprendi com meu sogro. Primeiro tirando seu caule e abrindo bem as pétalas para ficarem algum tempo de molho na água com vinagre. Depois aferventando num caldo aromatizado até que as pétalas possam ser descoladas suavemente. Então é só preparar um molho feito de vinagre, azeite, alho, sal, pimenta do reino e iniciar a festa. Pétala por pétala você vai tirando, passando a parte carnuda nesse molho. As brácteas. Descascamos folha a folha o rigoroso do inverno, os dias gelados, e mesmo ainda um pouco distantes da primavera, adiantamos o calendário ao menos nessa noite. O clima que envolve esse saborear as alcachofras é delicado como a própria flor. Até quando você tira uma pétala, passa no molho e oferece. Até os olhares trocados nesse despetalar. Depois de todas as pétalas você chega à parte fibrosa. Vale o trabalho de extrair com cuidado para chegar ao fundo da flor. Ao coração. Uma base feita do mesmo conteúdo das pétalas. Mas envolve você de um jeito diferente agora. O ar tomado pelo perfume dela. Saboreamos a inflorescência. As propriedades nutritivas e medicinais despertam a atenção: vitaminas do complexo B, potássio, cálcio, fósforo, magnésio e ferro. O sabor um tanto amargo que estimula as secreções digestivas além das características diuréticas. As alcachofras foram trazidas para o Brasil por volta de 100 anos atrás. É uma planta de clima temperado a frio e de áreas úmidas. Até vegeta bem em regiões quentes, mas não forma os botões florais. São 4 as variedades mais encontradas: Violeta de Proença, Roxa de São Roque, Verde Lion e Verde Grande da Bretanha. É formada por quatro partes: o fundo fibroso e a parte superior das folhas (não comestíveis), a base das folhas e o fundo ou “coração”. Os talos também podem ser apreciados, tirando-se bem as fibras externas e cozinhando junto ou preparando a base para um delicioso espaguetti ao molho com talos de alcachofra. Dizem que lá por volta do século XVI na França, o consumo da alcachofra tornou-se proibido para as mulheres. Parece que Catarina de Médicis adorava a iguaria e andou dando algum trabalho para o Rei Henrique II. Talvez venha daí a lenda do fruto ser afrodisíaco. De qualquer modo, afrodisíaco mesmo é você pensar em degustá-la, trazê-la para casa, seguir os procedimentos do preparo e pétala a pétala ir descascando essa iguaria. Esse poema. Pétala a pétala encravada. Taquicardia lá dentro.

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