quarta-feira, 24 de agosto de 2016

DEPOIS DA NOITE

http://viverdechamego.blogspot.com.br/2012/12/atelie-da-tulipa.html

DEPOIS DA NOITE

o biônico da manhã esconde os segredos dos pés descalços. a preguiça. entre cascas, uma lembrança escondida. entre o osso e a cartilagem, algo de entumecido cristaliza no tempo, e a voz na varanda molha debaixo da goteira debaixo da chuva que insiste debaixo da preguiça, apesar, do claro do dia, de um dia talvez ameno e do resedá que insiste num verão qualquer, insiste na barca de amantes. insiste numa especie de nevoeiro:  carnaval em corda bamba, cordas rotas. jaz na retina um aroma antigo: um sabor de água da talha, de sede apesar da cacimba. há talvez uma jangada na ponta do abismo. e velas abertas. 

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

SOBRE VAZANTES


SOBRE VAZANTES

o movimento caudaloso do rio;
roda dentada do desejo;
anoiteçe e adentra a terra

a metáfora passa a língua
no pescoço que esquiva;
dedilhante e obsceno.

um disfarce líquido
oculto e peludo
na sombra do salgueiros.

há mais que demoras na algibeira: 
uma vastidão de urgências.

na emboscada,
farpas de medo e redenção; 
ímpeto dentro,
labaredas estrilam nos olhos
da seca;
um desejo sonâmbulo, e o espanto: tudo é sangue.

E se fosse atrito?
Tempestade, concha?
Resvalaria?

(Lamberia que nem cachorro do mato?)








terça-feira, 16 de agosto de 2016

PERCEPÇÕES



http://artprojectsforkids.org/category/view-by-artist/artist-kandinsky/



um cheiro de azinhavre faz pausa pela casa e na casca inexata e frouxa da pupila da terra rego meu espanto debaixo da chuva. estou tão cheia de puídos...(vês?)

se não talho meu passo na caminhada ou sequer me agarro às rochas; flano na pedra, no musgo da pedra, na epiderme da mata que cilia as águas.



faço espaço entre algas e sargaços para achar a necessária contundênciasou afeita a abstrações e devaneios,


mas não me intimido na contraluz.

domingo, 14 de agosto de 2016

SOBRE CAVALGAR

O poema galopa sobre
os cascos
salta dentro do vento e do cheiro
salta no oco da palavra;
https://wallpapersdoalvaro.blogspot.com.br/2011/10/cavalos-selvagens.html
veloz faz a curva
pele e pêlo.

O poema não aceita ser encilhado.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

ODE PARA LUÍZA

Ilustração: Eva Armisén

Ode para Luiza 

pelo sulco do olho verto uma lágrima. ato ridículo e baldio como carta de amor nunca escrita. uma lágrima furtiva. rútila. apenas para edificar a dor: dar equilíbrio e resistência.

galhofeira, insisto em frente ao espelho um tanto lânguida (vês?); amarro com arame as lacunas para estar assim: súbita e obscena. 

dedilhante, suprimo o ar da palavra para fazer cardume de desejos em franca apnéia; dividir o mar com arraias: heterônima e abandonada. cerzida e voadora.

depois, farpo os espaços por puro capricho. coloco a palavra deserto no meio da palavra água pelo prazer de ver tudo desandar. por delirar e estar assim: vítrea, viscosa e febril. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

GÂNDARA

GÂNDARA



debaixo do sol ou na noite escura, tateio alhures entre palavras que insistem. tangencio a superfície da areia com a pele e faço núpcias com a escuridão. a memória me traz qualquer coisa de imaterial: sou aguçada por lembranças basais. matizada de impurezas. de tanta sede, rezo uma prece natural debaixo de um pequeno arvoredo: posso ver na lágrima um peixe; e mais ali, formações de líquen (olha). eu gosto tanto de prismas!

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

SOBRE GARIMPAR


http://www.gravura.art.br/carybe-2697.html

SOBRE GARIMPAR


(publicado na Oficina da Palavra Selvagem em 27 de julho de 2016)


Todo homem garimpa. Todo homem garimpa e se sabe musgo. se sabe pedra e rajada de vento. se sabe banho de ofurô.

Todo homem garimpa até mesmo quando o fogo dos sonhos faz soar ao longe uma ocarina: todo o mais passa e fica nas molduras e rodapés. nas notas de pé de página. 

Todo homem que garimpa é mais quando, pés n’água, carrega o horizonte nas mãos e nos olhos; a busca. todo homem, até em água benta, garimpa: silêncios e palavras: trampolins de onde salta para voar em papel de arroz. ladear talha-mares. todo homem garimpa. todo homem; música, perfume e voo. 
http://www.gravura.art.br/carybe-2697.html

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