Ele deve ter entre 9 e 10 anos. Do alto de seu, talvez, um metro e quarenta, carrega uma pequena mochila no ombro esquerdo e na mão direita um guarda-chuva. Passeia e faz malabarismos com o objeto. Brinca com o chuvisco e o corpo. Roda o guarda-chuva entre os dedos. Sobe e desce o objeto, que como o meu, é transparente. Olha a água que cai fininha. Inclina pra lá e pra cá. E de novo sobe e desce, rodopia entre os dedos, e dá um passinho pra trás. O menino brinca com a chuva! Eu, que dentro do carro vou chegando perto e vendo melhor a cena, avisto é Gene Kelly cantando. Porque como no filme, a expressão de felicidade e a naturalidade com que ele parece flutuar pela rua são iguais à do ator em “Dançando na Chuva”. Sigo escutando a trilha em minha mente, lembrando os movimentos, os pés nas poças d’água e o guarda-chuva bailando sob as goteiras das casas. É tão boa a brincadeira do menino que minha boca cantarola: I’m singing in the rain... É apenas a manhã de um dia que começou antes das 6 para mim, ainda escuro e chovendo bem mais. Agora já uma ideia de sol quer vingar sobre o chão ainda umedecido pelo chuvisco. Quer vencer o intermitente dele que cai fininho e vai espalhando pelo ar um cheiro doce de melancia. Um cheiro vermelho. E embora haja tanto ainda por fazer, isso tudo insiste em se sobrepor. Confesso que não é difícil deixar-me arrebatar por essas pequenas coisas. Acho até que algo em mim as procura. Algo em mim quer, permanentemente, se deixar arrebatar. E então essas coisas pequenas da vida, essas pequenas “grandes coisas”, me surgem. É claro que, na verdade, estão sempre ali, sempre por aí. Mas às vezes, mesmo não sendo difícil, eu não vejo...tão absorta que estou... então, quando volto a ver, me encanto. A vida é cada segundo, leitor. Cada fração. Uma somatória de fagulhas. Acho que o menino sabe disso. Melhor que isso: nem sabe. Apenas vivencia. Carpe diem! Talvez porque seja início de primavera, porque o verão está mais próximo hoje do que ontem. Porque o sol tenta rasgar o branco. Não importa. Importa o verão dentro dele e dentro de mim olhando para ele. Há pouco era Gene Kelly no ar e já será George Harrison, com sua “Here Comes The Sun”. A minha música e a do menino. Quem sabe também a sua “Here comes the sun, here comes the sun, Little darling, it's been a long cold lonely winter. Little darling, the smiles returning to the faces. Here comes the sun, here comes the sun and I say it's all right”. “Aqui vem o sol”, Joinville! Tudo prediz. Porque a vida é sim, uma aventura. “I’m singing in the rain”! “Here Comes the Sun”! Bom dia, leitor! E a vida continua avançando. Pouco antes da dança do menino me arrebatar, vi uma porção de árvores de natal numa vitrine!!!! Tudo isso, porque ainda é outubro.
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Oi, Clotilde, como sempre nos encanta com suas crônicas. E, são os "pequenos, grandes detalhes" que, de fato, nos deslumbram. Um menino brincando com o guarda-chuva. Memórias, lembranças de músicas, de filmes. Esperança de um dia de sol. Do sol que nasce dentro do próprio peito. E é somente outubro, mas já há árvores de natal. Lindo texto, partilha de vida, de sentimentos. Parabéns!! Beijos no seu coração, boa noite :)
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