sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

SOBRE ARRUMAÇÕES E OUTRAS COISAS

SOBRE ARRUMAÇÕES E OUTRAS COISAS




Sobre Bernardo Soares, semi-heterônimo de Fernando Pessoa, ele disse: “é um semi-heterônimo porque, não sendo a personalidade minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afetividade. Aparece sempre que estou cansado ou sonolento”. Isso não é maravilhoso leitor? Em estado de sonolência você é você mesmo, mas apesar disso você tem limitações técnicas... está sonolento, lembra? Quer dizer: seu raciocínio torna-se limitado e você fica de certo modo, despersonalizado (quase um outro?). Cito isso porque acho incrível a consciência da pluralidade que este homem tinha – todas as personalidades que o habitavam internamente (e ele fez um uso esplendoroso disso!!!). Desse imenso conteúdo que se não tivesse tido voz, sabe lá leitor, sabe lá)... O quanto escrever não nos resgata de uma crise e nos coloca nela? Penso nisso às vezes. O quanto escrever nos coloca no “olho do furacão” e daí simplesmente não dá mais para não mexer em tudo. Porque desse lugar, vemos! Depois de mexer em uns guardados lá na casa da praia - umas fotos, uns muitos pedaços de jeans (ex calças minhas) juntos numa sacola e o sonho da colcha que comentei com minha mãe quando da vinda dela aqui – os pedaços esperam por ela, por mim... (pela colcha?), e de ter folheado um livreto de Fernando Pessoa que lá estava porque alguém que é muito querido me emprestou uma vez - os poemas ainda esperam -, fiquei fazendo essas conexões... Rsrsrsrsrs pensou isso? quantos eus, quantos ais! Fernando Pessoa, esse homem sem possibilidades de definição, fundamentou seus heterônimos (até onde sabemos), basicamente por conta da pluralidade (dessas muitas personalidades que habitam nosso mundo interior), da consciência da multifacetada vida portuguesa (ele dizia: “O bom português é várias pessoas – Nunca me sinto tão portuguesamente eu como quando me sinto diferente de mim”), e de sua carga dramática, que fazia, segundo ele, “Voar outro”.

Ah leitor, no meio da bagunça que armei lá na praia (e da beleza que ficou depois!) eu derivei na profundidade desse homem! Sendo eu uma criatura de sentimentos variáveis, às vezes mais, às vezes menos, se como ele... se eu puder substituir o temperamento pela imaginação e o sentimento pela inteligência... ó! sais minerais! Essas coisas foram me passando em meio a roupas que terminavam de secar no sol de final de tarde, e madeiras velhas que separei para uma fogueira futura, colocando fora, literalmente, coisas que... (porque isso estava guardado?), leituras, enfim – tirando alguns quilos de minha casa e pensando na crônica da semana... Mas com mil carrapatos leitor! Você não sai da minha cabeça!!! E aquele frio na barriga do 1°dia continua, se me conheço, estará sempre comigo. Agora por exemplo, são quinze para as cinco da manhã desse dia que te descrevi. Isso tudo ficou em mim, né? A adrenalina inclusive; e advinha o que aconteceu? Cansada, tão terrivelmente cansada que estava quando deitei, inda perco o sono e aqui estou! Descascando o que me habita em palavras escritas. Sonolenta, sem o raciocínio usual e com um outro tipo de lógica? (de uma outra eu?), mas ainda assim eu? Deixa pra lá! Importa o seguinte: me faz muito feliz estar conectada com você. Obrigada!!!”

3 comentários:

  1. Desde cedo, Fernando Pessoa inventara seus companheiros. Ainda em Durban, imagina os heterônimos Charles Robert Anon e H. M. F. Lecher. Cria também o especialista em palavras cruzadas Alexander Search e outras figuras menores. Mas seria no dia 8 de março de 1914 que os heterônimos começariam a aparecer com toda a força.

    Neste dia, Pessoa escreve, de uma só vez, os 49 poemas de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro. Como resposta, escreve também os seis poemas de Chuva Oblíqua, que assina com seu próprio nome. Logo, inventaria Álvaro de Campos e, em junho do mesmo ano, Ricardo Reis. Um semi-heterônimo de Pessoa, Bernardo Soares, só em 1982 teve sua obra, O Livro do Desassossego, composta por fragmentos de prosa poética, publicada. Álvaro de Campos e Ricardo Reis, assim como o próprio Pessoa, consideravam-se discípulos de Alberto Caeiro, mas cada um seguiu os ensinamentos do mestre à sua forma, e chegaram até a travar uma polêmica muito interessante sobre o fazer poético. A última frase de Fernando Pessoa foi escrita em inglês no dia de sua morte: “I know not what tomorrow will bring” ou “Eu não sei o que o amanhã trará” O amanhã trouxe para Fernando Pessoa uma admiração crescente. Suas obras foram aos poucos sendo publicadas e ele é considerado hoje, ao lado de Camões, um dos dois maiores poetas portugueses de todos os tempos. Nenhum poeta, em língua portuguesa, obteve tanto prestígio em todo o mundo. O obscuro e modesto lisboeta tornou-se, assim, um nome importante em todo o mundo. Graças ao poder da palavra. Graças à magia da poesia.

    Beijos e bom fds.

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  2. Cara Amiga

    há momentos em que a gratidão pela amizade, excede a palavra, como por exemplo, se desejar passar lá na minha esplanada, em:

    http://impressoesdigitais2.blogspot.com/2010/02/condecoracoes-estampilhas-e-outros.html

    está um imenso abraço

    Leonardo B.

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