sexta-feira, 2 de agosto de 2013

MATÉRIA SEM CULPA



Capto a vida através de instrumentos. Mergulho em diferentes águas e pinço toda sorte de objetos: flutuantes, evanescentes, com mais ou menos contraste entre eles e a água. O critério segue o visgo dentro do olhar. Só o visgo. Ainda assim são objetos fugidios e, através deles, palmilho e desvendo. Depois percorro a orla com os pés descalços. Orla e órbita. Tropeçando em pequenos crustáceos, eu desvelo. Sangro no perímetro das coisas que tem textura, aroma e intensidades. Desenho nós dois sentados na areia. Sentados na beira em volta do buraco. Em volta da beira e da probabilidade. Da possibilidade. Às vezes é como gravidade: Não dá para negociar. Fóssil sem corpo. Afinal, quem dorme com cães, não necessariamente vai acordar com pulgas. Além disso, diante da tv, vejo tudo que pode haver de submerso em Moçambique, e que apenas três moças, antes dos 30 anos, podem desvendar e desvelar em rede para o mundo. Assim eu descubro o que pode haver no fundo só com o visgo do olhar. Sem sair do sofá vou explorando a densidade da água, escuto jubartes cantando e procurando o calor em águas africanas, fico sob o pôr de sol alaranjado capturado por alguém. Faço parte da cena. Do ocaso. Se não é verdade, a ideia serve de cola para que eu possa parar de pé. No mais, às vezes, tudo que se precisa é mudar de lugar. Uma palavra que salte também dá jeito. Palavra vôo, por exemplo, palavra verbo e conjugada no imperativo do desejo para descansar do conforto de outras: palavra rede, palavra almofada, palavra colchão. Eu voo. Qualquer coisa no baixo abdômen faz pressão. O desejo exerce pressão: até a palavra exerce. Uma palavra estranha - um x com som de z - que se tem que engolir como regra. Pressão também diz respeito à minas. Detonam. Tudo vai pelos ares. Roupas dentro do armário, pedaços de papel e tampas de bueiro. Pressão expulsa. Manda para o espaço o que estava encalacrado. No mais, não se tocam as efemeridades. Não se seguram os vendavais. E, felicidade não precisa de culpa. Ao fim e ao cabo, diz Tom Zé: mando a consciência junto com os lençóis para a lavanderia. 

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