quinta-feira, 3 de junho de 2010

CRONIQUETA PARA VIRGÍNIA, VIVIANE E AS LINHAS





CRONIQUETA PARA VIRGÍNIA, VIVIANE E AS LINHAS


De novo é junho. e já que me pediram para falar de amor eu digo: além da constatação de que escrever me coloca na fronteira, busco silenciar para escutar o que me confronta. os ruídos. de novo é junho. pressinto as chuvas que se avizinham (que venham!), o frio lá de mais ao sul e as perspectivas para a próxima meia hora. o tecido que cobre minha pele e que quero desmanchar. trama por trama. as paredes que fazem a casa onde estou dentro e meu encontro diário comigo mesma. coisas que vão e vem e voltam repletas de despropósitos. até os passos que dei aos 2 anos. as mãos nas cordas do violão tocando Roberto Carlos. as linhas das estradas que me trouxeram até aqui. as linhas. estou dentro delas. das cordas do violão. das linhas do tecido. linhas diversas que me transportam ao infinito. um caminho repleto de bordados, desenhos e pausas. eu desfio para transitar. estou costurada nas paralelas. dentro do buraco da agulha. o amor que sinto (e que não sinto sozinha) desejo que corte. que seja faca, tesoura. que corte o tecido bem no meio das linhas e me deixe pendurada nas bordas. desfiada na ponta da agulha. ressonando no timbre das cordas com música me embalando. canção de tardes e noites. eu reluzindo dentro dos olhos. bordada em osso. bordada em carne que as mãos tocam. vibrando sob música. dedilhada. sendo assim, nada… nem pinça, bucha vegetal, óleo medicinal, pontas dos dedos e até as unhas. banhos de imersão, agulha, alicate de cutícula e também pomada para calos: sendo assim, nada pode arrancar o desejo que formulo e grafo em cada centímetro de mim. por isso eu me solto no meio da sala e danço. assim vou permitindo escorrer as letras. então eu crio poemas para dar sentido às palavras. até para a palavra desejo. para a palavra talvez. talvez. para a palavra nunca. nunca mais. daqui fico vendo o amor como casa e janelas rangendo. eu molhada no alpendre pedindo pra entrar. pedindo um abraço cordilheira. transbordamento. sou tanta construção e não estou livre de hecatombes. de carregar essa gravidade nas costas. as farpas na pele. por isso adoro dançar e ver que tudo vaza de mim e vai delatando um estado de profundo silêncio que eu enfio no buraco da agulha e bordo, enfio no fio da navalha e corto. um estado de desvio e nódoa. de quase paz. tudo isso porque é junho. o meio entre janeiro e dezembro. o meio entre o calor que acaba e o que virá. entre o sim e o não. o não e o talvez. talvez sim. talvez não.

3 comentários:

  1. Lindo texto, Clotilde. É junho, o meio, talvez. Maravilhoso!! Uma boa noite, beijos no seu coração ;)

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  2. ah, clô, que maravilha de escrito. descortinado. ao meio. se rasgando, sabe. que nem junho. e esse novo layout ficou pra lá de lindoso! a foto de meio rosto também maravilhosa!

    beijo.

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