Pergunta-se o que é Terra Natal. Escuta dizerem que tal qual o amor, é
coisa única. Um só amor. Uma só terra natal. Mariana não pensa assim.
Sente-se capaz de abrigar em si muito amor. Amor simultâneo por coisas,
cidades e pessoas. Por isso ama Edgar e Rafael. O vestido com estampa de oncinha
e os chinelos. Por isso navega nas ruas de tantas cidades e diz: eu nasci aqui. À muitos
lugares ela sente pertencer. Lembra-se das aulas de matemática e dos símbolos de
pertence e não pertence... Fundamental é mesmo o amor. E isso não muda. Do que muda, ela escuta o que se avizinha e faz ninho no seu quintal. Ao cair da tarde, vislumbra possibilidades de
recriar-se e sair da mesmice. Estamos todos
destinados à mesmice! , diz apocalíptica. Dentre as mudanças, ela prefere aquelas que não tecem motivos para acontecer. Aquelas que se interpõem feito
tiro – entre o disparo e o alvo. E simplesmente não tem para onde correr. Não há tempo, talvez, para temer.
Mariana gosta de experimentar desassossegos, cheiros
inusitados e rajadas de vento. Sabe que viver é como estar no sofá de
uma sala de espera, somente no aguardo da sua vez de entrar. É dar ou receber o
diagnóstico. Assinar ou não o contrato e assumir as prestações que nos farão refém
ou algoz. Os papéis todos da gaveta espalhados em cima da mesa. Um foco de luz
roendo um pedaço do seu chão. Viver é estar no conflito.
Mariana sabe disso e ama cada estrondo. Cada parede que desmorona.
Sabe que coragem não é ausência de medo – é o medo mais o desejo
de fazer determinada coisa, de superar aquele medo.
Deve ser por isso que toma o avião carregando apenas
sua bolsa. Sabe que quando se tem muito a perder não há espaço para pensar. Esse
é o caso e ela vai perder cada uma das suas coisas. E vai nascer num outro lugar
repleto de coisas outras que vai amar e odiar. Uma outra terra
natal.
Feliz 2014 :)
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