quarta-feira, 12 de maio de 2010

CARTA DE EMA PARA GERTRUDES

CARTA DE EMA PARA GERTRUDES

Querida Gertrudes,


Na última carta você me perguntou sobre as palavras que escrevi para aquela pessoa. Não sei se poderei explicar, mas tento. Queria muito mesmo falar com ela, e como não houvesse possibilidade, comecei a escrever. Foi tomar a caneta em minhas mãos e as palavras começaram a riscar o papel - como a formar desenhos que me antecipavam – diziam de mim e eu mesma não sabia. Não saberia dizer como elas nasceram. Se de mim, se da caneta ou mesmo se já habitavam algum espaço antes de estamparem o papel. De tanto não poder afastar de mim esse sentimento, talvez as palavras tenham resolvido me criar. As palavras me criando. O texto me percebendo logo que a caneta riscou as primeiras palavras e outras foram surgindo, se encadeando como uma grande corrente. Elas me criando e eu seguindo por caminhos que ora eu advinhava e ora advinhavam a mim. Me antecipavam as palavras.... Você acredita? Você me perguntou que sentimento é esse? Oh, eu não direi que é amor! O que é o amor afinal, não é minha amiga? Digo apenas que tenho me ocupado disso. De vivenciar esse sentimento. Se prefere, de amar. Dionísicamente. E vou me perdendo e me encontrando em meio às pinturas que crio. Me perco em meio às tintas. Tantos azuis, laranjas e outras que se misturam. Me perco em meio à minha própria imaginação e lá vou me achando. Li que Einstein dizia que a imaginação é mais importante que o conhecimento. Estou bem, então, não acha? Parece ser essa a lógica. Pensamentos e imagens vão se formando a partir dos devaneios e quando vejo está lá tudo escrito. É uma forma de, quem sabe, sonhar acordada. Sim, porque a consciência nunca me escapa. Mas deixemos disso por ora. Quero saber de você. Como andam as arquiteturas? Anda poetizando essa cidade com seus desenhos? A arquitetura é um jeito de fazer poesia em três dimensões, não acha? Uma obra. Se bem filosofada vira arquitetura, se bem construída vira poema. Lembro de alguns dos seus desenhos. Da força que imprimia no traço. Eu olhava e via pura poesia. Preciso confessar algo. Promete que guarda junto com os outros? Vendi todos os livros da Isaura e usei o dinheiro para pagar o débito com o cartão de crédito. Acha justo ela me impingir esse peso? Eu cansei de carregar essa menina sobre os ombros. Não mereço isso, não é verdade? Mas não diga nada. Quando ela se dignar a me fazer uma visita e perguntar por eles, eu digo. Não lia aquilo tudo quando estava aqui, não é agora que vai ler. Quem leu fui eu nesses anos todos da ausência dela. Se não é você para dividir meus destemperos eu teria enlouquecido. Se ela quiser saber de algo, que me pergunte, não é? A biblioteca de Isaura mora em mim  agora. Quem sabe é um meio para ela conversar um dia comigo. Tudo que estava nos livros agora trago tudo dentro. Inclusive os pensamentos de Nietzsche. Também “O Príncipe”, de Maquiavel. Conte quando pretende vir. Vamos arquitetar as palavras e poetizar a vida. Sua sempre amiga, Ema.

3 comentários:

  1. Vim até aqui...
    para te trazer gentilezas...
    e beijos gentis...
    Leca

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  2. Oi Leca, é prazer receber sua visita. obrigada pela gentileza de se mostrar tão querida. adorei o cãozinho :)) eu também tenho a minha querida Arnica. um lindo domingo pra ti :))

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  3. Como sempre deleito-me ao passar por aqui.

    "Um livro de contos é um livro ligeiro de emoções curtas: deve portanto ser leve, portátil, fácil de se levar na algibeira para debaixo de uma árvore, e confortável para se ter à cabeceira da cama. Não pode ter o formato dum relatório, que, sendo destinado em definitivo a embrulhar objectos, deve ter de antemão o tamanho cómodo do papel de embrulho; nem pode ter o volume dum calhamaço de erudição histórica, impresso com o fim de ornamentar uma biblioteca."

    Eça de queiroz.

    Beijo.

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