terça-feira, 20 de agosto de 2013

COISAS VERMELHAS


Quero falar de coisas vermelhas para, juntos, imaginarmos sem moderação. Se a imaginação é um ato vermelho, significações e simbologias, quando vermelhas, não ficam omitidas. A fraternidade é vermelha, a paixão (inclusive quando não correspondida) é vermelha. A boca e a língua depois de comer cerejas, também. Ficam ainda mais vermelhas. Campari, quando cai na roupa. As gotas que escorrem num pacto de sangue. A árvore, quando você corta seu tronco, escorre um líquido que é vermelho. Arnaldo Antunes diz em uma canção, lindamente, que o corpo, se cortado, espirra um líquido vermelho. O sinal de PARE. Vermelho. A flor detrás da orelha da espanhola que dança. O sorriso dela é vermelho. O tango também é. Ela e ele: puro vermelho, puro sangue. Luiz Melodia canta vermelho. O corte na pele e o calor das mãos quando se tocam é vermelho. As flores, um dia, em uma camisa. O “não” que se interpõe feito bala em uma via só de sim. Coisa muito vermelha. Certas músicas ou um poema que alguém diz para você, ou mesmo a tinta com que se escreve certos poemas. Tinta de vida e morte. A cor que eu não disse quando perguntaram qual era minha cor predileta. O som de uma voz. O miolo do abacate lá dentro. Morango. As hemácias, a primeira cor do arco íris, a roupa do papai Noel.  Tudo vermelho. A frase que eu não disse. A que ele pensou e também não disse. O que se disse. O pen drive que meu pai um dia me deu. Visita sem avisar. Susto. Tapa na cara. Boca depois do beijo. Olho depois do beijo. Vermelho. O texto que estava pronto e eu deletei sem querer e de modo definitivo é vermelho. As lágrimas que se derramam e também as que se contêm. Copiosamente vermelhas. O primeiro gesto de ousadia de alguém. Pimentas dentro de um vidro. Fome, angústia e a vontade. Driblar a vontade também é vermelho. Uma nota zero. O fogo que por vezes reverbera dentro dos olhos. Uma noite inteira em claro é vermelha. Acordar no meio dela também. Bater nua, na porta de alguém, às 3 da manhã. Absolutamente vermelho. Peixe na brasa numa praia deserta, alecrim por cima. O peixe é o Vermelho. O peixe Vermelho é vermelho. Comer peixe numa praia deserta também. A cor que não coloquei na tatuagem e o que escorreu dela enquanto o bisturi tocava a pele. Vermelho. Coisas que escolhemos não viver podem ou não ser vermelhas. O coração pulsando na mão do cirurgião é vermelho. O tapete que a gente estende quando se apaixona. O motim que pode haver numa troca de olhar ou a marca de uma mordida são coisas deliciosamente vermelhas. Dolorosamente vermelhas? Também pode ser. Segundo a teoria dos tipos, o conjunto das coisas vermelhas é uma coisa vermelha. As coisas enquanto queimam na fogueira são vermelhas. O desejo, e o molho ao sugo do macarrão. O ódio. Um telefonema no meio da madrugada. Vermelho. O que se faz pensando em alguém, e que transparece expondo vértebras e medo. O medo é vermelho. Já o medo do medo e o sorriso amarelo; estes não cabem aqui.

2 comentários:

  1. Venho agradecer o seu registo no meu blogue.
    A minha avó paterna chamava-se Clotilde, gosto
    do seu nome.
    Gosto também de vermelho.Mas preciso de mais
    tempo para vir conhecer melhor seu blogue.
    Um beijinho
    Irene Alves

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Irene.. acabo de vir de sua página MAGIA e adorei conhecer o fado e Claudia Madeira e ver um pouco da sua terra...Irene é o nome de uma tia muito querida que tenho.

      um abraço e.. volte! foi um prazer. Clotilde

      Excluir

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