quinta-feira, 14 de abril de 2011

IVONE, O AMOR E A CIDADE

Ivone caminha pela cidade. Dentro dela e do passo ritmado debaixo do sol, descompassos. Um bate estacas crava fundações nalgum lugar. Ivone ama. Carros vão e vêm. Param, disparam. Ivone pensa em César. Uma mão esmola atenção. Ivone esmola o amor de César. “Nunca vou cansar desse oferecimento?”. Por mais que a pressa se deite sobre o dia Ivone não escorre. Caminha por ele e para as coisas que se enfileiram. Pensa em César e diz para ela mesma as palavras. O que diria para ele caso pudesse ouvir: “Você poderia me confortar com maçãs ou algo assim? Uma massagem que me deixasse, inteiramente, relaxada? Eu espero realmente que sim. Meu corpo não gosta de grosserias e só assim eu poderia te receber. Peço, sem nenhuma culpa que me encha de mimos. Poderia, nesse dia, fazer isso? Esquecer do mundo e ficar comigo? Nesse dia quero que viva e me faça viver. Tire meu ar para eu poder respirar. Já pensamos um no outro o resto do tempo”. O farol abre. Ivone entre as pessoas atravessa. Está caminhando para o que quer. Quer? Está dando asas a um desejo qualquer. Desvia do homem que cambaleia. Da vida que cambaleia nas primeiras horas da manhã. Os desejos movem Ivone e ela deixa. Saboreia um café antes dos degraus da escada. Os degraus do mármore pisados desde 1940. Mais de 70 anos de sobe e desce desenharam a lombada invertida nos degraus. Um aprofundamento literal causado pelo uso, pelo desgaste. A cidade pulsa e se admira. A cidade vive. Sorri e cora. A cidade chora. Ivone ama. Continua seu recitar silencioso para César embora esteja cansada do desgaste que isso gera. “Na minha hora, me percorre com demora. Faz pipoca doce para mim”. Um casal namora na praça. Um homem discute ao celular. Um corretor tenta convencer seu cliente. A mãe puxa a mão do filho. A menina carrega o rosa na mochila e o lilás no olhar. Um carro freia. Um susto que dá e passa. Ivone anda e pensa em César. Ivone ama. E por mais que ele lhe pareça tão adestrado, sabe da pulsação batendo forte. Batendo igual. “Eu te daria um pedacinho da minha vida e pecados. Pecados bem pequenininhos. Mas ando um pouco cansada do seu jogo. Eu deixaria você mergulhar no que pode haver no fundo dos meus olhos. O que pode haver?”. Um cachorro dorme alheio. Um homem dorme alheio. Nem Ivone nem César estão alheios ao que sentem. Nem Ivone nem César capitulam. Reais, são tão e simplesmente tocantes. Ócio e Vício. Ivone, debaixo do sol para quem não cansa de se abrir, quer naufragar. Capitular. A cidade almoça. O ar tem cheiro de pão com lingüiça e o cachorro está na porta. Os carros passam. Do ônibus saltam chegadas e embarcam partidas. César não telefona. O carro freia, Ivone passa e o moço pisca. Pisca para Ivone. Ela sorri. Ele pede para ela esperar. Os carros passam, Ivone sorve a água de coco e espera. O moço do carro chega. Ivone sorri. Ele também toma água de coco. Entre o que pode haver e o que há, Ivone desempenha. Se a pipoca doce não sai, fazer o quê? O que quer que possa haver no fundo dos seus olhos, tem agora a sombra do olhar do moço. Moço bonito e cheio de histórias. Os carros passam e fazer o quê? A fila anda.

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