sábado, 19 de dezembro de 2009

A ARQUITETURA E AS CIDADES - publicado no caderno ANEXO do Jornal A NOÍCIA de Joinville em 10 de dezembro de 2009.

A ARQUITETURA E AS CIDADES


Terça-feira, dia 15, Niemeyer fez 102 anos. O homem-arquiteto, ícone da arquitetura no Brasil e no mundo, ativo aos 102 anos. Independente de como repercutem suas obras, não há dúvida de que se trata de um grande artista mundial, páreo para Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Gaudi, Santiago Calatrava e demais "artesãos da forma". Eu nunca fui fã dele e de suas obras, mas sou fã da vida. Um século de existência produtiva e criativa nos faz pensar no tempo. Refletir sobre a ideia que "a vida é tão efêmera quanto uma fagulha para o tempo, mas para o homem é tudo". Isso me fez pensar em arquitetura, em Joinville, e em como estamos preparando a nós e a nossa cidade para nossa existência aqui. Obviamente, o tempo cobra seu preço, apesar de todos os recursos possíveis para mitigar os prejuízos da idade. As atividades mais elementares para um cidadão centenário tornam-se fortes desafios quando tais recursos não se colocam à disposição. Estou falando de inclusão universal - inclusão cultural, social, urbanística e tecnológica. A sociedade, a cidade, os meios de comunicação, os serviços públicos e privados têm, para o seu próprio bem, obrigação de amparar dignamente todo e qualquer estado físico e emocional de seus cidadãos. Cidades que excluem seus cidadãos - quer por seus espaços e elementos construídos, suas barreiras arquitetônicas (escadas, degraus e toda parafernália imprópria instalada nas calçadas e praças), falta de sinalização podotátil, sonora e visual entre outros, até o mal atendimento nas instituições, falta de assentos para filas, desrespeito ao parco privilégio dos idosos, grávidas, deficientes permanentes ou provisórios - estão em descompasso com a própria existência. Sim, porque ninguém se imagina numa cadeira de rodas ou de muletas, até quebrar um pé ou perna, ou ter que empurrar um carrinho de bebê, ou ter que atravessar uma rua no tempo do farol com pernas que não são mais jovens. Confortos tão simples e tão raros. Joinville tem uma faculdade de arquitetura. Um curso com viés tecnológico e compatível com a necessidade de formar pessoas para atuar na arquitetura e urbanismo, no paisagismo e na reciclagem. Atuar nas empresas de gerenciamento e execução de obras civis, públicas e privadas, de planejamento urbano e industrial. É preciso pensar numa interlocução desses seres em formação com a sociedade que lhe faz frente. A arquitetura pode muito. Na atual crise das cidades que vivenciamos, sabendo ser a cidade “a coisa humana por excelência” , o estado do homem e das relações que ele estabelece com o espaço que ocupa e constrói, temos que dialogar. Quando se pensa que no Brasil são gastos recursos enormes na realização de planos e de projetos urbanísticos sem que muitas vezes ninguém se preocupe em verificar a eficácia de seus postulados quando levados à prática, vemos a necessidade de se preocupar com o fato de que é na cidade que a vida acontece. Onde seres humanos se relacionam, interagem e se expressam como sujeitos. O que tudo isso tem a dizer aos planejadores urbanos? Há que se pesquisar e responder a isso. Cidades não são objetos idealizáveis abstratamente e nunca se comportam de acordo com as fantasias de quem as trata dessa forma. É preciso saber quais são os verdadeiros efeitos de determinadas ações sobre o meio urbano. Se um dia houve espaço para Niemeyer junto com Lúcio Costa, projetar uma cidade inteira, o exercício de produção de espaços urbanos está mais que na hora de exigir uma boa parada crítica e reconsiderações teóricas. Não é mais possível separar o ato de se pensar em propostas de arquitetura e urbanismo do ato de pensar também suas consequências. É preciso repensar uma área de domínio profissional, propor novos conceitos e re-examinar o que sempre foi proposto como verdade. Problematizar para buscar novas soluções. Como disse Aldo van Eike em 1974: “Apontar as estrelas-alvo antes que os foguetes partam”.

Um comentário:

  1. O mal é pensar-mos que só acontece aos outros.Quando nos toca a nós ,ai Jesus quem nos acode...

    beijo.

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