sexta-feira, 2 de outubro de 2009

S.O.S. RIO CACHOEIRA

Crônica publicada no Jornal A Notícia de Joinville em 01 de outubro de 2009.

Sábado último, depois de voltar do Mercado Municipal com friozinho e chuvisco intermitente, no aconchego de casa dormi um soninho gostoso e sonhei. Sonhei com a capivara que tínhamos visto na margem do Cachoeira e que tanto nos impressionou; ela não era sobrevivente em meio a um esgoto a céu aberto; era sim habitante de um rio despoluído que cortava a cidade, margeado por calçadões, decks, árvores e jardins. Uma Cidade-Parque, onde natureza e seres humanos conviviam em harmonia. Andava sozinha e por vezes em pequenos bandos. Os filhotes a se engraçar na mata ciliar. E lá na parte de trás do mercado, onde os carros se juntam, era um outro espaço voltado para o rio vivo, para o desfrute. Mesinhas espalhadas e convívio. Muita gente ali, joinvilenses e turistas. E falando em esgoto e gente, dois conjuntos de banheiros, masculino e feminino, lá estavam para os usuários. Uma beleza, leitor! Banheiro limpo, papel higiênico, sabão líquido nas saboneteiras e papel para enxugar as mãos. O básico e elementar, não é? Mas no meu sonho eles estavam lá. Eu passeava por todos os espaços; o comércio de verduras, legumes, grãos e afins, que ocupava o térreo, era de uma beleza fotográfica. Lá se encontravam donos de restaurantes e cozinheiros de plantão buscando de um tudo. E tinha. A seção de pescados e carnes era de um movimento sem igual. Em cima, num novo mezanino construído sobre parte da área interna, a banda de chorinho encantava mais frequentadores, e dois ou três botecos serviam iguarias de tirar o ar. Gente falando alto, cheiro de vidas misturadas; uma atração. No espaço externo, no lado que faz face para a Beira Rio, muitas mesas ocupadas ao livre, nas sombras das árvores e também ao sol, o espaço repleto de gentes e gentes escutando rock, MPB e no outro palco, teatro, dança, poesia, estórias, performances e outras atrações. Nem havia espaço no estacionamento... Mas para quê, não é? As pessoas vinham mesmo caminhando pela Beira Rio e desfrutando o sábado na cidade-parque. Aliás, lá onde ficam as figueiras que na vida real um dia foram objeto de dúvida, elas lá estavam. Pois não é que decidiram mantê-las e criaram uma alternativa para a questão dos bueiros e tubulações? Fizeram contenções naquele trecho e tudo ficou bem? De modo que o calçadão estava repleto de pessoas caminhando no trecho “Alameda” da Beira Rio. Um orgulho da cidade. Em bancos espaçados alguns sentavam, tomavam picolé e ficavam a namorar a vida. Uns faziam cooper, outros passeavam de mãos dadas e alguns da caminhada já esticavam para uma comprinha no mercado, um instantinho de música, papo e encontro com amigos e mais desfrute, olhar o rio de perto, e as capivaras. Mostrar aos filhos o rio que passava sem gritar sua dor, sua falta de oxigênio, seu terrível odor, e contar como era bem o oposto há um tempo atrás. Agora as mesas repletas, o rio vivo e capivaras, garças e até o famoso jacaré desfrutavam. Vez por outra passava algum barquinho. Espiavam o movimento do mercado e seguiam... Foi então que comecei a escutar algo, como uma espécie de uivo, que foi ficando mais perto e eu percebi que era choro. Capivaras choravam as mazelas humanas, o rio chorava detritos, poluentes químicos e emanava um odor pútrido. As pessoas choravam. Choravam Joinville que chorava seu rio que chorava oxigênio que chorava descaso. Acordei incomodada com o úmido do travesseiro. Foi um sonho leitor. Era eu que chorava. Enxuguei o molhado do rosto e sentei para escrever esse texto. Alguns de vocês certamente sonham como eu. Vamos fazer virar verdade? Quem se habilita?

2 comentários:

  1. Qualidade de vida anda pela hora da morte ,querida amiga.
    Escolha de texto *****.

    Bjos.

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  2. Bom dia Clotilde!

    Nada em nosso (Uni)verso é aleatório ou por acaso!

    Há que se conhecer e compreender as Leis Imutáveis que regem a Vida (que é muito + ampla e abrangente do que nosso cotidiano...)

    Vamos sim, fazer esforços (cons)cientes para (re)despertar a sensibilidade dos cidadãos planetários, para que todos percebamos que "O meio em que vivemos é reflexo do que fazemos".

    Vamos sim, fazer com que todos percebam que não importa o cargo que ocupem, são antes de + nada, seres humanos, que não adianta se fechar em "Gaiolas Douradas" pois ninguém está imune às Leis Universais de Causa e Efeito!

    Vamos todos "Elevar os olhos aos Céus" e flanar pelas ruas da cidade! Para perceber sua beleza e também sua tristeza...

    Vamos todos (re)construí-la, com sensiblidade e ações concretas, carinhosas...

    Vamos sim, nos unir em torno do Amor Maior, que nos (ins)pira e fortalece à seguir caminho, mesmo que sozinho(s)!

    Adorei aquela nossa conversa sobre a cidade, vamos contagiar + gente(s) com esse Amor pela Vida!

    ...............................
    Já estamos no ar!

    Aqui está o link! Te envio as idéias que tenho + tarde...
    http://almaencantadoradacidade.blogspot.com/

    Te enviei convite para começarmos a (Re)construção do nosso Mosaico-Cidade - Colorida - Encantada - Amada Por todos - (Re)construída com todos - Florida - Arco-íris - Enfim...

    Forte abraço!

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borde aqui suas impressões e comentários, ok ?

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