quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

2009 é bala

2009 é bala 




De todas as formas de mudança, a que mais gosto é a que não tece motivos para acontecer, não tem razão ou razões que a expliquem ou justifiquem – gosto daquela que se interpõe feito tiro – entre o disparo e o alvo – a razão é o entre – é ser atravessado por ela e não poder nada, a não ser conter o furo provocado, os rastilhos de pólvora e o vazio como constituição permanente de você. Qualquer que seja o lugar, independente de onde a mudança te leve, você se configurará assim, com o vazio da bala. Dar conta desse vazio é experimentar desassossegos, cheiros diferentes, rajadas de vento. É dar a estar no conflito, no sofá de uma sala de espera, somente no aguardo da sua vez de entrar. Dar ou receber o diagnóstico. Assinar ou não o contrato e assumir as prestações que te farão refém ou algoz. Os papéis todos da gaveta espalhados em cima da mesa. Um foco de luz roendo um pedaço do seu chão.

Tem uma frase que diz: coragem não é ausência de medo – é o medo mais o desejo de fazer determinada coisa, de superar aquele medo. Agora... o que nos coloca nesse ponto, exatamente no ponto onde a atitude vai fazer a diferença é que são elas... Outro dia li algo num fanzine na casa de uma amiga, alguém dizia: “Nossa, isso mexeu no arco da velha do meu inconsciente! E se perguntava: Como devo perceber isso? Como perceber de forma revolucionária? Desatrelar a percepção da alienação? 

E então talvez o melhor seja colocar todas as cartas de uma vez, começar por aquilo que nos toca mais imediatamente. Que vem do rol das urgências da vida, sabe? E fazer como o outro cara disse: tirar o véu! Desmaterializar a coisa toda para dar a ver de uma outra forma – como um animal à espreita – atravessado e revolvido pelo fato e envolvido por ele até a raiz dos cabelos. Toda a nocividade da coisa dentro. Mas sem piedade, sem devoção – simplesmente porque desse jeito a gente não vai mudar coisa alguma. A mudança é que nos muda – “nos faz acessar a potência, “criar canais, poros, portas, pontes”. Quando a gente atravessa e chega lá, a gente vê este lado do lado de lá. Mudam as perspectivas. De acordo com o cara, acessamos o estado onde nosso desejo varia para produzir um outro modo de desejar. Isso é um jeito de revolucionar. De rasgar o véu para habitar esse campo de forças dentro da experiência do tempo que nos atravessa. 


A raiz desse texto me atravessou no início de mais um ano que se coloca, que se atravessa. Na possibilidade de estarmos juntos aqui todas as quintas-feiras e toda a surpresa que isso pode acarretar. Recebi emails na sequencia da publicação da minha primeira crônica Fiquei muito feliz com a possibilidade concretizada dessa troca. Conhecer um pouco mais dos leitores,  ter a oportunidade de conhecer um pedacinho que seja das coisas que pensam. Obrigada a todos. Cada novo ano se interpõe como bala. Cada vez mais. Entre os rastilhos de pólvora e o furo permanente que nos habitará e com o qual atravessaremos os anos seguintes existe, de presente, a surpresa de podermos reinventar outros modos de desejo para implantar a boa revolução – aquela que acontece e derrama seus resultados feito semente, que cai na terra, vem a chuva, vem o sol, e então germina... Vamos?

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